AGROSOFT 99
II Congresso da SBI-Agro


Uso da Informática na Agricultura Mineira: Perfil do 
Usuário e Estado da Arte

 

Autores 

Sônia Maria Leite Ribeiro do Vale
Email: smleite@mail.cpd.ufv.br
Vínculo: Professora Assistente, Departamento de Economia Rural/UFV
Endereço: Departamento de Economia Rural – Universidade Federal de Viçosa CEP 36570-001 Viçosa – MG
Telefone:

Marcelo Lacerda Rezende
E-mail: mrezende@pacu.esalq.usp.br
Vínculo: Doutorando em Economia Aplicada, Escola Superior de Agricultura Luíz de Queiróz/USP
Endereço: R. Santos Dumont, 253 – Independência CEP13418-120 Piracicaba - SP
Telefone:

Resumo

Esta pesquisa objetivou caracterizar o perfil dos usuários da informática e das sofhouses na agricultura mineira. Foram distribuídos cerca de 300 questionários, sendo obtidas 214 respostas de produtores rurais, empresas e técnicos que atuam no setor. Para as softhouses, foram enviados 15 questionários, sendo obtidas 11 respostas. Os resultados obtidos demonstram que a utilização da informática não ocorre de maneira uniforme entre as regiões do estado, sendo que fatores como idade, grau de escolaridade e tipo de atividade exercida também afetam a utilização. Os programas utilizados são principalmente para o controle de rebanhos. Os usuários demonstraram-se satisfeitos com a utilização da informática, sendo que a falta de treinamento para utilização dos programas foi a maior dificuldade enfrentada.

Abstract

This research focused in characterizing the profile of the computer user and the softhouses in Minas Gerais agriculture. It was distributed , to the computer users , around 300 hundred questionnaires , and 214 answers from the rural manufacturers , companies and technicians that work in that field.To the softhouses were sent 15 questionnaires and 11 answers were obtained. The results that were obtained showed that the use of computers is not uniform within the regions of the State , although factors such as age , schooling level , and the type of activity practiced also affect the utilization of computers. The most used programs are the herd control ones. The users appear to be content with the use of computers , being the lack of knowledge in utilization of the programs the biggest difficulty faced.

Palavras chaves

Uso da informática, produção de softwares, agricultura em Minas Gerais.

 

1. INTRODUÇÃO

O uso da informação como um insumo do processo produtivo tem-se intensificado nos últimos anos. O rápido desenvolvimento da tecnologia computacional e a correspondente redução em seus custos têm aumentado a capacidade dos computadores em auxiliar os administradores na coleção, armazenamento e processamento das informações.

Embora seja expressivo o potencial de uso desta tecnologia, a sua adoção pelos administradores rurais tem sido lenta. Assim, o conhecimento do estado atual de sua utilização e do nível da satisfação do usuário, seu perfil e suas necessidades é de extrema importância, já que não se conhecem, no Brasil, estudos dessa natureza.

Esta pesquisa objetivou, portanto, caracterizar o perfil dos usuários da informática e das sofhouses na agricultura mineira, para que sirva de subsídio ao norteamento das ações que visam implementar o uso dessa ferramenta como auxílio ao processo de tomada de decisão.

 

2. METODOLOGIA

Foram utilizados dados primários obtidos de questionários enviados as softhouses e aos usuários da informática do setor agropecuário mineiro. Inicialmente, procurou-se identificar as softhouses situadas em Minas Gerais e, por meio delas, foram identificados os usuários. Foram contatadas quinze empresas, sendo que onze responderam ao questionário.

Para os usuários, foram distribuídos cerca de 300 questionários, sendo a maioria enviadas pelos softhouses, sendo obtidas 137 respostas de produtores rurais, 20 de empresas e 57 de técnicos que atuam no setor, totalizando 214 questionários.

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Localização dos usuários

A Figura 1 mostra as regiões do estado de Minas Gerais onde estão localizados os usuários de informática e as softhouses. Pode-se notar uma maior concentração dos usuários na região Sudoeste. Na Grande BH destaca-se o número de técnicos, enquanto na Zona da Mata/Rio Doce, além de uma significativa porcentagem de técnicos, aparece a maior quantidade de produtores usuários da informática. O Nordeste mineiro apresenta, junto com a região Sudoeste, o maior número de agroindústrias informatizadas. Noroeste e Centro-Oeste são as regiões com menor participação dos usuários. As regiões Sudoeste e Zona da Mata/Rio Doce possuem também o maior número de softhouses, indicando que esta presença possa estar afetando o número usuários nestas regiões. 

Figura 1: Localização dos usuários de informática no estado de Minas Gerais.
Fonte: Adaptado de Geominas (1999)

3.2. Perfil e nível de satisfação dos usuários

3.2.1. Caracterização dos produtores

Foram analisadas a idade e a escolaridade dos produtores, além da execução de atividades fora da empresa rural. Estes fatores são os mais freqüentemente citados, como capazes de afetar a adoção da tecnologia computacional pelos produtores rurais (Batte et al., 1996; Howard et al., 1996 e Baker, 1991).

Entre os produtores rurais, 49% têm até 40 anos e, considerando-se a faixa etária até 50 anos, a percentagem passa para 72,4%. Acima desta idade situam-se apenas 22% dos produtores. Quanto a escolaridade, 73% possuem curso superior completo, demonstrando um alto grau de escolaridade entre os que responderam à pesquisa, 8,8% declararam que possuíam curso superior incompleto, 8,8% o segundo grau completo e os restantes (9,4%) situavam-se entre o primário incompleto ao segundo grau incompleto.

Dos produtores, 62% declararam que possuíam algum tipo de atividade que não estava relacionada à propriedade. Entre elas estão: comércio (21,7%), assistência técnica e consultoria (9,6%), ciências médicas (8,4%), indústria (7,2%), profissionais em veterinária, zootecnia e agronomia (12%) e outras (27%).

Com relação a área das propriedades, 44% das empresas possuíam área de 100 a 500 ha; 11,9%, de 500 a 1000 ha; e 22,4 %, de 1000 a 5000 ha. O restante, 17,2% possuíam menos de 100 ha e 3% mais de 5000 ha.

As principais atividades exercidas pelos produtores rurais que participaram deste estudo é a bovinocultura de leite (49%), bovinocultura de corte (32%), a suinocultura (19%), café (16%), milho (4,0%), entre outras (12%). Esse resultado é coerente com o que se esperava, pois a maioria dos softwares disponíveis no mercado atualmente está voltada para atender aos pecuaristas, conforme será mostrado na análise sobre o perfil das softhouses.

3.2.2. Utilização da informática

Neste item procurou-se conhecer melhor os produtores rurais que utilizam a informática, levantando o tempo de uso do microcomputador, a motivação para implantação do processo, o grau de satisfação dos usuários com a informática e as principais dificuldades enfrentadas pelos usuários.

Pelos resultados obtidos, pode-se notar que a maioria dos produtores já utiliza a informática, em suas propriedades, por um período de tempo que vai de 0,5 a 5 anos (65,6%); já 12,4% utilizam os computadores de 5 a 7 anos; e 13,8%, de 7 a 10 anos. A operação do computador é feita, na maioria da empresas (68,6%), pelos próprios proprietários, sendo também citados funcionário contratado (29,2%), filhos (24,8%), esposas (15,3%) e outros (11,7%).

Questionados sobre a motivação que tiveram para implantação da informáticas em suas propriedades, os produtores responderam, principalmente, a necessidade de melhor controle, gerenciamento e organização das empresas (45,2%) e a agilidade e facilidade de obtenção da informações e do controle (33,3%).

Com relação aos equipamentos disponíveis nas empresas rurais, pode-se comprovar que a maioria (59,9%) já utilizava o PC-Pentium ou o PC-AT 486 (35,8%), o que demonstra a preocupação dos produtores com o investimento em máquinas, ou o que pode também ser uma exigência dos programas que estão sendo empregados.

Quanto ao uso dos periféricos e de rede de informações, 96,4% possuem impressora; 62,0% possuem computador equipado com placa de fax/modem; e 40,1% já utilizam a internet, principalmente para obter informações e pesquisas (51,9%); para troca de informações e materiais (22,2%); atualidades e curiosidades (5,6%); entretenimento (1,9%); e outros usos (14,8%).

Com relação aos programas utilizados foram citados programas de controle de rebanho (65,9%), programas contábeis finanças e bancos (11,9%) e outros (8,9%). Além destes pode-se apurar que 78,8% dos produtores utilizam editor de textos; 65,7%, planilhas eletrônicas, e 29,2%, outros programas. A frequência de uso é diária (58,4%), semanal (25,5%) ou quinzenal e mensal (9,5%).

A maioria dos produtores rurais declarou-se satisfeita (53,3%) ou muito satisfeita (28,5%) com os resultados obtidos pelo uso da informática em suas propriedades, tendo somente 13,9% apresentado algum grau de insatisfação. Entre as principais dificuldades foram consideradas a falta de treinamento e assistência técnica (36%), a falta de programas adequados e simples (20,6%), a obtenção de dados (13,2%) e o custo do programa (8,8%). Outros 12,5% declararam não ter tido dificuldades.

3.2.3. Perfil dos técnicos que atuam no setor agropecuário

Os usuários de programas específicos para a agropecuária e que exercem atividades técnicas, na sua maioria, mantêm vínculo com instituições federais, estaduais ou municipais (50%), com empresas particulares (31,3%) ou com cooperativas (18,8%). A maioria atende até a 10 produtores (63,4%); 7,1%, de 11 a 30 produtores; e a mesma porcentagem, 31 a 50 e 51 a 200 produtores.

Com relação ao tempo de uso do microcomputador, pode-se notar que a maioria o utiliza de 2 a 5 anos (33,3%) enquanto 21,1% o fazem por um período mais longo, 7 a 10 anos. Além do próprio técnico, que é o principal usuário dos programas (57,1%), foram também citados funcionários (19,6%) e esposas (7,1%). A maioria dos usuários (68,4%) recebeu treinamento antes de começar a operar o computador.

Assim como os produtores usuários da informática, os técnicos citaram como principal motivação ao uso do microcomputador, a agilidade, a facilidade e a confiabilidade (40%), o maior controle da empresa e de suas atividades, principalmente a pecuária, facilidade para o gerenciamento e organização das informações coletadas (20%).

Com relação aos resultados obtidos com a informatização, assim como os produtores, a maioria dos técnicos está satisfeita ou muito satisfeita (75,5%) e somente 17,6% apresentam algum grau de insatisfação. As principais dificuldades que os técnicos têm enfrentado estão relacionadas com a falta de programas adequados e simples (36,9%), elevado custo dos programas (7,0%) e falhas nos programas e falta de assistência técnica (5,3%).

A maioria dos técnicos (45,6%) utiliza programas específicos de controle de atividades agropecuárias e programas da Microsoft (14,0%), e com freqüência, principalmente, diária. Os equipamentos usados são o PC-Pentium (66,7%) ou o PC-AT 486 (26,3%), conectado à impressora (89,5%) e equipado com placa de fax/modem (54,4%). A rede internet é usada por 54,4% dos técnicos, principalmente para consultas específicas na área de ciências agrárias (informações técnicas e econômicas) e para se comunicar (e-mail). 

3.2.4. Perfil das empresas usuárias da informática

Dos questionários enviados aos usuários das softhouses mineiras que produzem programas específicos para o setor agropecuário, 9,5% foram respondidos por empresas (agroindústrias) que atuam principalmente na produção de produtos lácteos (40%) e de ração e suplementos (20,0%). O computador é usado, por estas empresas, principalmente na área de administração, finanças e contábil (50%), produção (15%) e no escritório (15%).

Quanto ao nível de satisfação com o uso da informática, assim como os produtores e técnicos, a maioria das empresas declararam estarem satisfeitas (95%) e somente 5% algum nível de insatisfação. As dificuldades na utilização da informática também estão relacionadas com inadequação dos programas (35%), falta de treinamento do pessoal (15%) e falta de assistência técnica (10%).

Os programas mais utilizados nas empresas são da Microsoft (25%), de controle e nutrição (25%), e financeiros (10%). O equipamento utilizado pela maioria é o PC-Pentium (60%) ou PC-AT 486 (55%), equipado com impressora (90%) e placa de fax/modem (70,0%). A rede internet é usada em 40% das empresas, para de consultas em geral (87,0%) e troca de informações (12,5%).

3.3 Empresas produtoras de softwares

As empresas pesquisadas, possuem de um a nove anos de fundação, com uma média de 5,4 anos. Essas empresas iniciaram suas atividades com a comercialização e prestação de serviços em informática (3 empresas), consultoria e prestação de serviços em agropecuária (3 empresas), produção e comercialização de softwares para agropecuária (5 empresas).

As empresas que não iniciaram suas atividades com produção e comercialização de softwares, principalmente as que já atuavam no setor agrícola, buscaram, com a oferta deste tipo de produto, atender à demanda existente entre seus clientes. Dessa forma, houve tendência, entre as empresas, de permanecerem nos setores em que iniciaram suas atividades, sendo que, atualmente, 63,6% das empresas atuam em outros setores além da produção de softwares agrícolas e 36,4% atuam, exclusivamente na produção e comercialização.

Os tipos de programas criados e comercializados pelas empresas são para a produção animal (61%), administração e planejamento (27%), comercialização (4%) e outros (8%). Nota-se a ausência de programas para produção vegetal.

Os programas utilizados para produção estão ligados à área de nutrição, principalmente cálculo de rações, e com o manejo e controle de bovinos, suínos e aves. Os programas para administração abrangem áreas como contabilidade, custo de produção e gerenciamento de propriedades. Três programas são específicos para determinada atividade, como gerenciamento de propriedades com pecuária leiteira e planejamento e análise econômica para culturas florestais e fruticultura. Foi levantada ainda a presença de um programa para a comercialização de produtos e dois programas que não estão relacionados com a atividade agrícola.

Quanto à existência de outros programas no mercado com a mesma função, 27,3% responderam que desconhecem a existência de similares aos desenvolvidos pela empresa. Às empresas restantes (73,7%) foi perguntado em que o seu produto diferencia dos concorrentes, 45,4% das empresas responderam que seus programas possuem maior facilidade de operação e melhor qualidade e eficiência, 27%, menor preço e 18% consideraram seus programas mais abrangentes.

As propostas iniciais de desenvolvimento dos programas foram baseadas, em 54,5% das empresas, na demanda de clientes, na pesquisa formal de mercado (36,3%), proposta de um professor ou consultor da área rural (18,2%), necessidade própria (18,1%) e na encomenda direta de um produtor rural (9,0%).

A grande maioria das empresas recorreu a profissionais da área rural como fonte de informações durante o desenvolvimento do projeto (81,8%). As empresas recorreram também a pesquisadores de instituições de pesquisa (18,2%), à literatura (45,4%) e à observação da concorrência (9,0%). Algumas empresas recorreram a mais de uma fonte. Entre as empresas, 45,4% responderam que já trabalharam, ou trabalham, em cooperação com instituições ou outras empresas.

Isto pode ser confirmado considerando-se as dificuldades enfrentadas pelas empresas no desenvolvimento dos programas, que estão relacionadas com a falta de interação entre a área agrícola e a informática. As outras dificuldades estão relacionadas com o alto custo para a produção de softwares (23,0%), com a dificuldade em definir as necessidades dos usuários (15,4%) e com a falta de tecnologias para o desenvolvimento dos programas (7,7%).

Apesar de na maioria dos casos os usuários não participarem de todas as etapas de criação dos programas, muitas empresas demonstraram uma preocupação em envolvê-los neste processo. Os usuários foram geralmente consultados quando da especificação de requisitos para o programa (54,5%) ou estiveram presentes nas etapas desenvolvimento (36,3%).

De forma geral, as empresas comercializam seus produtos em todo o país (63,6% das empresas); as demais atingem as regiões Sul e Sudeste (18,2%); e 18,2%, além destas duas regiões, o Norte e Nordeste. Duas empresas exportam seus programas para a América Latina, e uma destas para os Estados Unidos.

As principais dificuldades das empresas na comercialização de seus produtos estão relacionadas com distribuição dos produtos (45,4%), falta de confiança dos produtores (27,2%) e dificuldade de acesso ao público alvo (18,1%). As empresas possuem diferentes tipos de clientes, destacando-se os produtores rurais, com 65% das vendas e profissionais da área agrícola, com 34,5%.

 

4. CONCLUSÃO

Os resultados demonstram que a utilização da informática concentra-se em determinadas regiões do estado e ocorre principalmente entre os bovinocultores. Fatores como idade e escolaridade dos produtores rurais, assim como o custo dos programas podem estar ainda afetando a adoção da informática. Entretanto, a maioria dos produtores, técnicos e agroindústrias estão satisfeitos com o uso da informática e reconhecem os benefícios que esta tecnologia pode trazer para auxiliar a tomada de decisão dos administradores rurais.

Ainda assim, produtores, técnicos e agroindústrias apontaram a falta de programas específicos para suas atividades como uma das dificuldades para a utilização da informática. Este fato, associado às dificuldades relatadas pelas softhouses, para o desenvolvimento dos programas, demonstram a necessidade de uma maior interação entre as softhouses, os produtores rurais e também, instituições de ensino e pesquisa. Dessa forma, os usuários poderão obter um melhor proveito de seus sistemas, tanto por meio da criação de programas facilmente utilizáveis e que atendam às suas reais necessidades, quanto pelo seu treinamento.

 

5. REFERÊNCIAS