AGROSOFT
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Software para Gerência de
Atividades Agropecuárias: Experiência no Projeto da Interface
com o Usuário
Autores
Carlos Alberto Alves Meira
Email: carlos@cnptia.embrapa.br
Vínculo: Embrapa Informática Agropecuária
Endereço: Caixa postal 6041 13083-970 Campinas, SP.
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Vínculo: Embrapa Informática Agropecuária
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Resumo
Este artigo apresenta a experiência obtida no projeto de interface com o usuário de sistemas para gerenciamento de atividades agropecuárias. A ênfase é no sistema reativo usado para modelar a gerência e na participação do usuário no desenvolvimento. O exemplo utilizado é um software para gerenciamento de rebanhos bovinos leiteiros. É feita uma comparação entre a primeira versão do software, com interface textual e pouca preocupação com aspectos de usabilidade dentre outros, e a segunda versão, com interface Windows e de acordo com estratégias de projeto de interação humano-computador.
This paper describes the experience in designing the user interface of agricultural management systems. The emphasis is on the reactive system used for modeling the management activities and on the user participation in the development. A dairy herd management software is illustrated and a comparison is established between the first textual version of the software and the Windows version. The first one has taken little concern about usability while the last one has been designed according to strategies for effective human-computer interaction.
Palavras chaves
Software agropecuário, gerência agropecuária, interface, usuário, sistema reativo.
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de software deve ser realizado com o máximo envolvimento possível do usuário e iterativamente, propiciando testes e avaliações desde as fases iniciais. São os princípios de projeto de interação humano-computador centrado no usuário (Preece et al., 1997).
Este trabalho apresenta a experiência da Embrapa Informática Agropecuária no desenvolvimento de software para o domínio de gerência agropecuária, especificamente no projeto da interface com o usuário.
Inicialmente, é feita uma exposição sucinta sobre os conceitos de gerência de atividades agropecuárias e como esta pode ser modelada para se aplicar a automatização por programas de computador. A experiência no projeto da interface com o usuário de um software específico para a atividade de produção de leite é apresentada em seguida. Os pontos mais importantes do projeto são colocados, bem como a influência dos usuários neste processo, desde a primeira versão do software, com uma interface textual, até a sua reengenharia resultando numa versão com interface gráfica.
2. GERÊNCIA DE ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS
A gerência de sistemas de produção agropecuários pode ser vista como um sistema reativo, onde eventos realizados prevêem a ocorrência de novos eventos. A Embrapa Informática Agropecuária, baseada neste paradigma, criou uma metodologia para o desenvolvimento de aplicativos voltados para este domínio (Massruhá et al., 1998).
O gerenciamento por computador de um sistema de produção é baseado no fluxo de informação esquematizado na Figura 1. No início do período, o responsável pela operação do programa emite relatórios com previsões de eventos para um intervalo de tempo de sua escolha (uma semana, 15 dias, um mês etc.). O produtor ou responsável, de posse desses relatórios, no formato de planilhas, leva-os "a campo", onde são preenchidos os dados sobre a realização dos eventos.
Figura 1: Ciclo de gerência de um sistema produtivo.
Tendo de volta os relatórios preenchidos, o operador confirma no computador os eventos que ocorreram, ajustando os dados de acordo com o que foi realizado em campo, quando necessário. A partir da confirmação dos eventos realizados, novas previsões de eventos são geradas. Assim, sucessivamente, a cada início de período, novos relatórios de eventos previstos podem ser emitidos e, ao final do período, confirmados os eventos ocorridos.
Para ilustrar isso que foi descrito, será tomado como exemplo o Lactus, software para gerenciamento de rebanhos bovinos leiteiros (Meira, 1998). Essa mesma metodologia vem sendo utilizada no desenvolvimento de um sistema para gerenciamento de rebanhos bovinos de corte (Massruhá & Cardoso, 1998) e de um sistema para gerenciamento de lavouras (Fileto et al., 1998).
No Lactus, ao cadastrar uma vaca prenhe, é agendado o parto. Ocorrendo o parto e este sendo confirmado no computador, a vaca inicia uma lactação e é programado o primeiro controle leiteiro. Confirmado o primeiro controle, programa-se o próximo e, depois, confirmado este, programa-se o próximo, sucessivamente.
3. PROJETO DA INTERFACE COM O USUÁRIO
O projeto da interface para os aplicativos de gerência agropecuária foi conduzido para representar o fluxo de informação da Figura 1. A primeira experiência foi no desenvolvimento da versão do Lactus para sistemas operacionais compatíveis com o MS-DOS, sem grande preocupação com aspectos de usabilidade e outros.
Posteriormente, no porte para a versão Windows, o intuito foi aproveitar adequadamente os elementos de interface gráfica do novo ambiente operacional, segundo estratégias para interação humano-computador (International..., 1998; Shneiderman, 1992), eliminando deficiências e restrições indicadas pelos usuários da primeira versão e incluindo novas funcionalidades solicitadas.
INTERFACE MS-DOS
A interface do Lactus na versão MS-DOS se divide entre menus, formulários de entrada de dados, diálogos e um formulário de eventos previstos. Os menus e submenus ocupam telas separadas, não havendo o efeito cascata.
A Figura 2 ilustra o formulário de cadastramento de animais preenchido com dados de uma vaca prenhe. Os dados de produção e reprodução, a partir de ESTADO PRODUTIVO até NÚMERO DE COBERTURAS, só se aplicam às fêmeas e dependendo da categoria.
Figura 2: Formulário de cadastramento de animais (versão MS-DOS)
Figura 3: Estrutura de menus dos eventos (versão MS-DOS)
Os vários eventos contemplados no Lactus foram agrupados em menus e submenus. Eventos de reprodução foram separados dos eventos de produção de leite, de cadastro do rebanho, de sanidade e de pesagens dos animais. A Figura 3 ilustra parte da estrutura de menus para os eventos de reprodução. A confirmação dos eventos previstos e a emissão de relatórios também foi separada para os mesmos grupos de eventos interrelacionados.
A Figura 4 ilustra o relatório planilha de partos previstos. A emissão é feita a partir do submenu de relatórios de eventos previstos da opção Relatórios (Figura 3). Neste relatório, deve-se anotar a data real de ocorrência do parto e outras observações sobre o evento.
Figura 4: Relatório de partos previstos (versão MS-DOS)
O passo seguinte é confirmar no computador a ocorrência do parto. Isso pode ser feito através do formulário do evento parto, escolhendo a opção Parto no menu da Figura 3, ou através do formulário de eventos previstos (Figura 5), que é escolhido a partir do submenu da opção Confirmação das Atividades Previstas.
Uma das vantagens de se confirmar através do formulário de eventos previstos é que, acionado o botão CONFIRMAR, o formulário do evento parto já vem preenchido com alguns dados, por exemplo o brinco (número particular) da fêmea e a data provável do parto. Outra vantagem é poder confirmar outros partos que estão previstos para o mesmo período.
Figura 5: Formulário de eventos previstos (versão MS-DOS).
INTERFACE WINDOWS
A versão MS-DOS do Lactus, fundamental na validação da modelagem por eventos das aplicações agropecuárias, possui deficiências e restrições. As principais vão ser discutidas nesta seção, apontando-se como foram solucionadas na versão Windows.
O Lactus, inicialmente, foi projetado para um único produtor com seu rebanho em sua fazenda. Mas o software tem também, como potenciais usuários, zootecnistas, médicos veterinários, outros profissionais que prestam assistência técnica a mais de um produtor e cooperativas. Além desses, um produtor com mais de uma fazenda ou com mais de um rebanho numa mesma fazenda deve ser considerado como um potencial usuário. A versão Windows permite todas essas possibilidades.
A Figura 6 ilustra o formulário de cadastramento de animais do Lactus para Windows, que pode ser comparado com o formulário da versão MS-DOS na Figura 2. Os dados de um animal, que aumentaram em número, foram separados em pastas, melhorando a distribuição e consequentemente a visualização da informação.
Os dados de reprodução e produção na versão MS-DOS são registrados junto com os dados do animal, o que foi apontado pelos seus usuários como dificuldade no cadastramento inicial de implantação do sistema automatizado, pois, geralmente, num controle manual, esses dados são mantidos em fichas de papel separadas.
Na versão Windows, os dados de reprodução e produção são registrados num formulário separado. Eles podem ser informados no momento do cadastramento dos dados gerais de uma fêmea ou podem ser registrados posteriormente. O formulário é aberto quando acionado o botão Reprodução/Produção (Figura 6).
Figura 6: Formulário de cadastramento de animais (versão Windows)
Os menus do fluxo de controle não mais estão em telas individuais. São utilizados os elementos de menu do Windows (Figura 7), muito mais práticos e concisos, evitando que o usuário se perca na navegação e permitindo que ele ganhe tempo nas trocas de controle.
Figura 7: Estrutura de menus dos eventos (versão Windows)
A estrutura de menus também foi alterada para corrigir outra deficiência da versão MS-DOS: na confirmação dos eventos previstos, os usuários tendem a indicar a ocorrência diretamente pelo formulário do evento, ao invés de utilizar o formulário de eventos previstos.
Na versão Windows, a opção de confirmação de eventos previstos foi colocada num nível abaixo da opção específica para a qual se está querendo confirmar a ocorrência dos eventos. Na Figura 7, corresponde à opção Previstos no nível inferior à opção Parto.
A Figura 8 ilustra o relatório de partos previstos do Lactus para Windows, que pode ser comparado com o relatório da versão MS-DOS (Figura 4). O novo relatório possui mais informações e mais espaço para preenchimento dos dados sobre a ocorrência do parto. A figura exibe uma parte apenas do relatório, que é emitido no formato paisagem.
Figura 8: Relatório de partos previstos (versão Windows)
O relatório de partos previstos é emitido a partir do formulário de eventos previstos (Figura 9). Esta funcionalidade foi colocada para eliminar a dificuldade, apontada pelos usuários da versão MS-DOS, em ter que navegar por estruturas diferentes de menu para emitir um relatório de eventos previstos e depois confirmá-los. Na versão Windows, isso é feito com os botões Vis. impressão e Confirmar, respectivamente.
O intervalo de tempo que seleciona os eventos previstos é escolhido no próprio formulário (caixa de diálogo antes de entrar no formulário na versão MS-DOS). É possível ter uma visão do conjunto de eventos previstos (apenas um evento visível na versão MS-DOS). E é possível visualizar as informações do evento como no relatório de previsão de eventos correspondente (apenas os campos genéricos do formulário de eventos previstos da Figura 5).
Uma vez no módulo de eventos previstos, o usuário pode escolher outras previsões de evento através do seu menu. Isso evita que o usuário tenha que fechar o formulário de eventos previstos e escolher o outro evento a partir da estrutura de menus principal, como é feito na versão MS-DOS e foi apontado como dificuldade pelos seus usuários.
Figura 9: Módulo de eventos previstos (versão Windows)
4. CONCLUSÕES
A versão MS-DOS do Lactus, fundamental na validação da modelagem por eventos das aplicações de gerência agropecuária, pecou pela falta de preocupação com certos aspectos da interface com o usuário. Esta versão foi prejudicada pelo elenco de ferramentas disponível, a maioria de domínio público, por questões orçamentárias. No desenvolvimento do Lactus para Windows procurou-se corrigir essa falha com uma consideração maior quanto aos aspectos relacionados com a interação humano-computador. O feedback dos usuários da versão MS-DOS foi essencial para a identificação dos seus principais problemas.
5. REFERÊNCIAS