AGROSOFT 99
II Congresso da SBI-Agro


Informática na Agropecuária: Hardware, 
Software e Recursos Humanos

 

Autores

José Carlos dos Santos Jesus
Email: jcsjesus@ufla.br
Vínculo:Universidade Federal de Lavras – UFLA
Endereço: Caixa Postal 37, Cep 37200-000, Lavras – MG
Telefone:  (035) 821-7812, Fax: (035) 829-1442

André Luiz Zambalde
Email: zambalde@ufla.br.
Vínculo: Universidade Federal de Lavras – UFLA,
Endereço: Caixa Postal 37, Cep 37200-000, Lavras – MG
Telefone: (035) 829-1123

Resumo

O trabalho apresenta algumas considerações estratégicas sobre o processo de informatização de propriedades rurais. Buscou-se analisar os principais impactos e opções relativos a este processo, considerando aspectos administrativos, econômicos e sociais, como: mudanças na estrutura formal das organizações, impactos sobre o emprego, tipos de programas mais utilizados, capacitação de fornecedores (softhouses e instituições), entre outros. De maneira geral, conclui-se que as organizações rurais não estão preparadas, do ponto de vista administrativo, para a informatização. Quanto ao software, observou-se que a grande maioria dos desenvolvedores está mais preocupada em explorar as possibilidades de uma nova ferramenta do que em entender e solucionar as necessidades dos produtores rurais.

Abstract

The work presents some strategic grounds on the informatization process of farms. It was designed to analyze the chief impacts and options relative to this process, taking into account the managerial, economical and social aspects, such as: changes in the formal structures of the organizations, impacts upon employment, sorts of most utilized programs, qualification of suppliers (softhouses and institutions) among others. In general, it follows that the rural enterprises are not ready from the managerial point of view for informatization. As regards the software, it was noticed the most of the developers is more concerned with the exploration of the possibilities of new tool than understanding and solving the needs of the rural producers.

Palavras chaves

Informática; modernização agropecuária; impactos estruturais da informatização

 

1. INTRODUÇÃO

O mundo encontra-se no início de um grande processo de transformação. O desenvolvimento tecnológico impõe um grande salto desde a sociedade industrial (máquinas e equipamentos de médio e grande porte, produção em massa) para a sociedade da informação (flexibilidade, atendimento aos requisitos do cliente). Nele coexistem três grandes revoluções técnicas, progressivamente integradas à sociedade de forma desigual: informática, automação e engenharia genética.

Surgem novas tecnologias, que representam um arsenal de novos aparatos, sofisticados ou não, relacionados com a microeletrônica (informática, automação e telecomunicações), com a engenharia genética (biotecnologia) e com o segmento administrativo (novas formas de gestão e gerenciamento, mudanças no conteúdo do trabalho), significando transformações expressivas nos processos de trabalho e na vida social.

O Brasil realiza grandes esforços para acompanhar estas transformações, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento e adoção de novas tecnologias de base microeletrônica e gerencial, particularmente correlacionadas com a informática. O país vive um processo de democratização política e desenvolvimento industrial, objetivando posicionar-se melhor no cenário sócio-econômico internacional. Entretanto, às portas do que pode ser uma nova sociedade, não se conta com suficientes experiências e investigações sobre suas repercussões, suas limitações, suas possibilidades, seus riscos e sua evolução. Na maioria dos países, só existem indícios, esboços não bem fundamentados, da implantação, aplicações e uso destas novas tecnologias. Tais indícios ou esboços são ainda mais frágeis com respeito ao setor agropecuário (Oliveira, 1990).

Isto implica que é preciso estudar não somente questões industriais e econômicas relacionadas às novas tecnologias, como também uma definição correta da introdução e uso destas, principalmente no setor agropecuário.

Neste contexto, este trabalho objetiva apresentar algumas considerações estratégicas e práticas sobre o processo de informatização das empresas/propriedades rurais, processo que deve obedecer a uma série de etapas, denominadas "etapas desenvolvimento" (Jesus, 1994; Meireles, 1994), quais sejam:

 

2. REFERENCIAL TEÓRICO

No contexto tecnológico, o relatório do Office of Tecnology Assessment do Congresso dos EUA (OTA, 1986) classifica as novas tecnologias de informação aplicadas a agropecuária em três grandes grupos: tecnologias de gerenciamento da informação (relacionadas com o presente trabalho), tecnologias de controle e monitoramento e tecnologias de telecomunicações. As tecnologias de gerenciamento da informação consistem basicamente no sistema computacional (hardware e software) objetivando coleta, armazenamento, tratamento e distribuição de informações. As tecnologias de controle e monitoramento são utilizadas no gerenciamento automático do processo produtivo animal e vegetal. Os sensores ocupam papel relevante nestas aplicações. As tecnologias de telecomunicações dizem respeito às redes de transmissão de dados e à troca de informações utilizando dispositivos eletrônicos específicos (telefone, rádio-comunicação, satélites, entre outros).

Com relação ao aspecto humano, Dossi (1989) chama a atenção para o fato de que o conhecimento relativo ao uso da tecnologia não está incorporado, de fato, a nenhum produto específico. Para esse autor, tal conhecimento não pode tampouco ser reduzido ao entendimento de operações fáceis. Ele responde principalmente a uma dinâmica de "aprender fazendo" determinada pela apropriação da inovação tecnológica pelo usuário, que introduz sua experiência. Isto implica que para que uma empresa possa efetivamente introduzir uma inovação, deve contar no interior mesmo de seu aparato produtivo, com uma quantidade de condições que vão da formação de seus operários à sua capacidade para introduzir novos processos tecnológicos e à sua inteligência para sintetizar a experiência anterior com novos aportes técnicos.

No que diz respeito ao aspecto administrativo, Franco Jr. (1992) afirma que uma adequada estratégia de organização das atividades e priorização dos sistemas a serem implantados terá reflexos positivos no processo de informatização da propriedade agropecuária. Inicialmente, maior ênfase aos sistemas mais ligados ao nível operacional refletirá numa maior facilidade e envolvimento das pessoas diretamente ligadas ao processo. Segundo Arraes (1993), "quanto mais os objetivos de uma empresa tornam-se complexos, seja em termos de dimensões, seja por dificuldades operacionais, mais sente-se a necessidade de informatizar o processo de manipulação das informações, visando facilitar e agilizar o processo de tomada de decisões"

 

3. METODOLOGIA

Pode-se dizer que este estudo tem um enfoque exploratório, realizado em propriedades-caso localizadas no sul do estado de Minas Gerais (106), por instituições de ensino, pesquisa e extensão instaladas na região sudeste do Brasil (9), e por produtores, desenvolvedores e fornecedores de software de várias regiões do país (22).

Para coleta de dados foram elaboradas questões que serviram como roteiro e base para operacionalização de entrevistas, abordando assuntos diversos, tais como perfil da empresa (tamanho, atividades, produtos), características relativas ao processo de informatização, mudanças ocorridas, capacitação e qualificação de funcionários, perspectivas relativas à informatização, entre outras.

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. ESTRUTURAÇÃO ADMINISTRATIVA

Do total de 106 entrevistas realizadas junto a empresas/propriedades rurais da região sul de Minas Gerais, identificou-se que 33 (ou 31,1%) utilizam o computador como instrumento de apoio às suas atividades técnicas, administrativas e gerenciais. O perfil básico dessas empresas é o seguinte: atuam na área de pecuária de leite e/ou cultura do café; são administradas sob base familiar ou capitalista; possuem entre 20 e 30 funcionários fixos; área de 300 hectares e produzem, em média, 40.000 litros de leite/mês.

Os motivos que levaram as empresas à informatização foram: facilidade de acesso e domínio da informação (15 ou 45,4%), grande volume de informações a serem processadas (12 ou 36,4%) e redução de custos (6 ou 18,2%). Outras 73 empresas (68,9%) ainda não fazem uso desta ferramenta, principalmente devido à falta de conhecimento na área e ao alto custo dos sistemas. O perfil técnico dessas empresas é muito semelhante (pecuária de leite e/ou cultura do café, administração familiar ou capitalista). Entretanto, possuem um número reduzido de funcionários fixos, área e produção.

Os principais problemas encontrados referem-se especificamente à coleta de dados (14 empresas ou 42,4%), treinamento básico em informática (10 ou 30,3%) e alto custo dos sistemas (9 ou 27,3%).

Os usuários dos sistemas são os próprios administradores (empresa capitalista) ou proprietários (empresa familiar). Ou seja, o processo de informatização não exigiu contratação de funcionários. Quanto à dispensa destes, praticamente todas as empresas (30 ou 90,9%) foram categóricas em afirmar que o processo também não permitiu a dispensa de empregados. O que ocorre é uma certa demanda por mudanças de conteúdo do trabalho; um processo de mobilidade, treinamento e reciclagem. Aumenta-se o controle, exige-se mais responsabilidade, participação e qualificação, principalmente no que diz respeito à coleta de dados.

Todos os equipamentos utilizados são compatíveis IBM-PC e encontram-se instalados nas fazendas há mais de um ano.

4.2. AUTOMAÇÃO

Segundo Garcia & Barros (1985), a automação diz respeito ao processo de efetiva adoção da tecnologia informática, segundo três estratégicas básicas:

4.3. INTEGRAÇÃO

A integração representa a última etapa do processo de informatização no qual os sistemas, já em pleno funcionamento, passam a ser integrados/interligados. Cria-se, então, através da ferramenta padrão "banco de dados", uma grande rede de informações interna e externa (Andreasen, 1994). Esta pesquisa não identificou nenhuma empresa/ propriedade rural "na plenitude" desta fase do processo de informatização. Utiliza-se a comunicação de dados para acesso a empresas de serviço bancário (fax/modem) e informações de mercado (Inter Index, 1994).

 

5. CONCLUSÕES

A informática anda de mãos dadas com a padronização de processos e procedimentos. Assim, para gerenciar a empresa sob a égide da informática, o produtor/administrador deve ter em mãos a maioria dos dados (consistentes e reais) necessários para definir a situação sócio-econômica de seu empreendimento. Se não existe estrutura capaz de gerar estes dados é preciso realizar mudanças estruturais, principalmente qualificar pessoal. A solução que vem sendo adotada é treinar os funcionários (retireiros, homens do campo) para coletar dados, o que, como já foi ressaltado, implica em alterações na rotina de trabalho e aumento de responsabilidade. Neste instante, passa-se a exigir mais dos funcionários, inicia-se o aumento do controle, começam a surgir históricos de produção e a prevalecer dados estatísticos. O produtor irá, com o decorrer do tempo, cobrar melhor performance da atividade antes realizada sem qualquer índice comparativo. Um processo de mudança que exige mobilidade, treinamento e reciclagem.

No contexto geral, cabe enfatizar, conforme Bornstein & Villela (1991), que é necessário não somente levar em conta fatores econômicos, mas também fatores políticos, sociais e culturais. Na área econômica, não se deve restringir somente a uma análise dos custos privados, mas apreciar também os custos sociais, enfim, avaliar sempre a possibilidade de optar por processos de informatização que aumentem a produtividade preservando a qualidade do trabalho.

6. BIBLIOGRAFIA

 

7. BIOGRAFIAS