AGROSOFT
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Importância e Aplicação
dos Sistemas de Informação no Agribusiness
Autores
José Albos Rodrigues
Email:albos@dsc.ufpb.br
Vínculo: Departamento de Sistemas e Computação Centro de Ciência e TecnologiaUFPBCampus II
Endereço: Av. Aprígio Veloso 882, CEP 58.109.970 Campina Grande-PB
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Resumo
No agribusiness há duas classes de atores que são as instituições e as organizações. As instituições estabelecem as "regras do jogo", sendo reguladoras, tais como instituições governamentais, não governamentais e para-governamentais e entidades de classe. As organizações podem ser vistos como sendo os "jogadores" que atuam diretamente no agribusiness. São as empresas, cooperativas, organizações familiares de produção, consumidores etc. Há uma dicotomia de interesses, onde o econômico e o social vivem em relações de aliança ou confronto dependendo da ênfase a nível sócio-cultural que ocorrem nas relações estabelecidas entre os atores da regra e os do jogo. Surgiram dois temas muitos discutidos recentemente: sustentabilidade e competitividade. As instituições defendem a sustentabilidade ou sobrevivência do planeta, enquanto as organizações procuram a competitividade ou sobrevivência das empresas. Um arranjo dessas relações requer capacitação, densidade tecnológica, mobilidade, flexibilidade e agilidade nos processos de tomada de decisão. Esse cenário de mudanças exige um repensar das estratégias de informação de todos os elementos envolvidos no processo agribusiness visando a adoção de sistemas de informação compatíveis com estratégias que façam uso adequado da tecnologia de informação para competitividade e consequente sobrevivência no mercado garantindo a sustentabilidade.
Abstract
There are two classes of actors in agribusiness: institutions and organizations. Institutions establish the rules of the game, playing a regulating role. They may be governamental, non-governamental, para-governamental or class entities. Organizations 'plays the game' of agribusiness. They may be co-operative associations, producers, consumers, and so on. There is a dicotomy of interests between this two groups, concerning economic and social questions.Two questions appeared in the last years: sustentability and competitivity. Institutions defends sustentability whereas organizations looks for competitivity. A settlement of this two positions requires qualification, technological density, mobility, flexibility, and agility in decision making processes. This changing framework requires new strategies of information technology for all elements envolved in agribusiness. They need information systems which are compatible with competitivity and, at the same time, survival of the market which warrants sustentability.
Palavras Chaves
Sistema de informação, informática, tecnologia de informação, agribusiness
1. INTRODUÇÃO
Agribusiness ou agronegócio, é o termo usado para denominar todo um conjunto de agentes econômicos integrados à produção agropecuária, incluindo as instituições que dão suporte e apoio ao setor. O antigo conceito de setor rural, que tinha como foco de atenção a propriedade agrícola, deu lugar ao de cadeia produtiva ou Agribusiness que além de incorporar o consumidor no processo inclui as inter-relações entre os diversos elementos da cadeia produtiva.
Um sistema de informação é um conjunto de pessoas, métodos, processos, máquinas e materiais, necessários ao provimento de informação para a organização. É o conjunto de mecanismos que faz a informação fluir e ser armazenada dentro da organização. Um sistema empresa possui diversos subsistemas e consequentemente vários subsistemas de informação. Um Sistema de Informações Gerencial (SIG) é um sistema voltado para a coleta, armazenagem, recuperação, distribuição e processamento de informações que é usado, ou desejado, por um ou mais gerentes no desempenho de suas atividades. Os tipos de Sistema de Informações Gerenciais (SIG) são aqueles relacionados com as áreas funcionais da empresa incluindo marketing, produção, administração financeira, administração de materiais, administração de recursos humanos, administração de serviços, gestão empresarial e a própria a administração de sistemas de informação. As várias funções e atividades identificadas devem ser separadas entre os que correspondem às áreas funcionais-fim a às áreas funcionais-meio. As áreas funcionais-fim englobam as funções e atividades envolvidas diretamente no ciclo de transformação de recursos em produtos e de sua colocação no mercado. Pertencem a esta categoria as seguintes áreas funcionais:
- Marketing - é a função relativa à identificação das necessidades de mercado, bem como a colocação dos produtos e serviços junto aos consumidores.
- Produção - é a função relativa à transformação das matéria-prima em produtos e serviços a serem colocados no mercado.
As áreas funcionais-meio congregam as funções e atividades que proporcionam os meios para que ocorram a transformação de recursos em produtos e serviços e sua colocação no mercado. São desse tipo as seguintes áreas funcionais:
- Administração Financeira - é a função relativa ao planejamento, captação, orçamentação e gestão dos recursos financeiros, envolvendo também os registros contábeis das operações realizadas nas empresas;
- Administração de Recursos Humanos - é a função relativa ao atendimento de recursos humanos da empresa, ao planejamento e gestão destes recursos, do seu desenvolvimento, benefícios, obrigações sociais etc.;
- Administração de Serviços - é a função relativa ao transporte de pessoas, administração de escritórios, documentação, patrimônio imobiliário da empresa, serviços jurídicos, segurança etc.;
- Administração de Materiais - é a função relacionada com aquisição, armazenamento, transporte, entradas e saídas de materiais, bem como toda a gestão de materiais.
- Gestão Empresarial - é a função relativa ao planejamento empresarial e ao desenvolvimento de sistemas de informação.
O desenvolvimento e implementação de sistema de informação computadorizados utiliza tecnologias, metodologias e recursos de hardware, software e a tecnologia da informação, que compreende a tecnologia de informática propriamente e a tecnologia de comunicação. As metodologias e ferramentas de produção de sistemas de informação modernas, procuram reduzir a possibilidade de distorção das informações nesse processo de comunicação que envolve o usuário, o analista de sistemas e o programador.
Os sistemas de informação podem, portanto, transformar as organizações e os métodos gerenciais. Por isso devem ser criados a partir de profundo conhecimento das dimensões tecnológica, organizacional e gerencial do agribusiness.
2. IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO NO AGROBUSINESS
O Agribusiness enquanto ramo do conhecimento procura estudar a complexidade, a organização, a qualidade e a produtividade de cada elemento das cadeias produtivas, bem como as transações e níveis de governância das relações entre esses elementos, com o objetivo de estabelecer mecanismos e processos que dêem competitividade à cadeia como um todo e a cada um de seus membros. No agribusiness pode-se identificar duas classes de atores sociais que são as instituições e as organizações. As instituições são os atores sociais que estabelecem as "regras do jogo", estando incluídas nesta classe as instituições reguladoras dos processos do agribusiness como as instituições governamentais, não governamentais e para-governamentais, bem como as entidades de classe e instituições culturais. Estes atores podem existir de fato e não serem necessariamente constituídos de direito, entretanto influenciam, ou atuam, de forma direta ou indireta seja nas estruturas de governança ou na efetivação das transações do agribusiness. As organizações formam uma classe de atores que podem ser vistos como sendo os "jogadores" que atuam diretamente no agribusiness. São as empresas, cooperativas, organizações familiares de produção, consumidores etc. Todos estes atores compõem os elementos das cadeias do agribusiness incluídos os segmentos de insumo, produção rural, indústria, comércio e consumo. São muitas as cadeias que constituem o agribusiness. Em cada cadeia podem estar envolvidas várias instituições e organizações, o que exige disciplinamento e coordenação para que o jogo aconteça conforme estabelecem as regras. Em cada segmento da cadeia há peculiaridades e complexidades adversas que dificultam a coordenação e a governança da cadeia.
Há também, no agribusiness, uma dicotomia de interesses, onde o econômico e o social vivem em relações de aliança ou confronto dependendo da ênfase a nível sócio-cultural que ocorrem nas relações estabelecidas entre os atores da regra e os do jogo. Surgiram neste bojo, dois grandes temas que tornaram-se objeto de discussão nos últimos anos, que são a sustentabilidade e a competitividade. As instituições procuram desenvolver mecanismos que garantam a sustentabilidade ou sobrevivência do planeta, enquanto as organizações procuram a competitividade ou sobrevivência das empresas. Um arranjo de relações que contemple os dois interesses requer capacitação, densidade tecnológica, mobilidade, flexibilidade, e acima de tudo, agilidade nos processos de tomada de decisão. O atendimento destas necessidades exige tratamento automático da informação (informática), ou seja, a coleta, o processamento, o armazenamento e a distribuição em formato adequado e no tempo desejado.
A administração de empresas do Agribusiness, especialmente as empresas rurais, têm peculiaridade do ponto de vista administrativo. Em primeiro lugar, porque na produção rural o homem não tem total controle, pois quem produz na realidade é a natureza, ou seja, ele procura harmonizar os bens de produção, mas existem muitas variáveis incontroláveis. Segundo porque há baixos níveis de densidade tecnológica e educacional. Além disso geralmente são grandes as distâncias geográficas entre os elementos de uma cadeia produtiva, principalmente nas empresas rurais.
A escassez de recursos impõe às organizações em geral a racionalização da produção reduzindo custos, estoques, desperdícios etc., o que demanda tecnologia inovadora que possibilite ganho de produtividade e maior satisfação do consumidor. Esta nova realidade impõe o uso de modelos e práticas gerenciais centradas na eficácia e reformulação dos processos com planejamento estratégico o mais realista possível.
Por outro lado as regras impostas pelas normas da qualidade e pelo código de proteção e defesa do consumidor obrigam as organizações a lançarem mão da tecnologia da informação para agilizar os processos decisórios; viabilizar reengenharia de processos; planejar, executar e monitorar a implantação de novos modelos de gerência; gerenciar programas de qualidade; facilitar a capacitação para uso de novas tecnologias; inovar com produtos adequados atendendo desejos e necessidades dos consumidores; e melhorar a eficiência da organização como um todo.
3. APLICAÇÃO DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO NO AGROBUSINESS
Com o conceito de Agribusiness, em lugar do antigo setor rural, a informática passa a ser essencial para que a complexa rede de cadeias produtivas se torne competitiva, uma vez que se configura como uma ferramenta estratégica para melhorar a eficiência tanto das unidades produtivas isoladas como do sistema agribusiness como um todo.
Não obstante sua importância, no Brasil é incipiente a adoção da tecnologia de informática. Para ilustrar, apenas 3% dos produtos de software disponíveis no mercado são voltados para a agro-pecuária, que é responsável por 35% do PIB e a cultura de informática é pouco difundida no meio dos produtores. Verifica-se também predominância do uso de software na pecuária e os produtos do mercado não incorporam a nova visão de Agribusiness. A escassez de informações sobre Informática no Agribusiness associada ao fato de que as empresas de software além de poucas são descapitalizadas e ineficientes em qualidade e produtividade, é um fator limitante para o desenvolvimento da produção de software .
Os softwares utilizados no agribusiness brasileiro estão distribuídos em três áreas, sendo a pecuária a que possui mais produtos, seguido pela área de gestão e depois da agricultura. Nota-se pequena oferta de produtos para a área de gestão, que deve ser a principal preocupação das organizações do mundo globalizado, uma vez que os das áreas de agricultura e pecuária são, na grande maioria, voltados para processos, ou seja, aspectos operacionais e não gerenciais. É fácil notar que nas categorias de bovinos, nutrição animal e aves estão concentrados grandes quantidades dos produtos ofertados pelo mercado, entretanto apresenta-se vinte e quatro categorias, o que revela que há muitas possibilidades de aplicações da informática no agribusiness. A distribuição das empresas produtoras de softwares segundo os Estados do Brasil. 39% estão em São Paulo, 25% em Minas Gerais, 16% no Paraná, representando um total de 80% das empresas. Os demais estados apresentam pequenos percentuais. Verifica-se que de 1995 a 1997 houve um crescimento grande. Isto certamente reflete que há preocupação com a utilização de sistemas de informação informatizados. Este quadro de mudanças reflete o fim da lei de reserva de mercado de informática, que possibilitou a proliferação dos computadores em todos os setores da economia brasileira, bem como a preocupação com o próprio setor agribusiness em si como trabalho conjunto das instituições e organizações o permeiam. Percebe-se que houve um crescimento de mais de 50% em apenas dois anos. É oportuno ressaltar, aqui, que são muitas as ações visando o crescimento da indústria de softwares para o agribusiness. Um exemplo típico é o Programa Softex 2000, que alavancou várias empresas de produção de softwares para atuarem no agribusiness. 41% dos produtos estão na faixa de R$ 500,00 a R$ 1.000,00 e 41% na faixa de R$ 1.000,00 a 3.000,00 perfazendo um total de 82% dos produtos do mercado.
Com esta análise procurou-se examinar vários aspectos da aplicação dos sistemas de informação computadorizados no Agribusiness. Constata-se que a área de gestão é pouco atendida em relação às exigências do mundo globalizado e tanto na agricultura como na pecuária é muito pequena a oferta de softwares. Pode-se observar também que os softwares para agribusiness apresentam preços elevados, comparando-se com os de outros segmentos da economia, e que a maior parte das empresas estão sediadas em São Paulo e Minas Gerais.
Há várias possibilidades de desenvolvimento de software para Agribusiness. A implantação de redes de informações que viabilizem a oferta de bases de dados e serviços de informações para produtores, cooperativas, extensão e agroindústria se apresenta como caminhos alternativos além de necessidades de concepção e produção de softwares aplicativos específicos. O nível de competitividade do Agribusiness no Brasil requer melhor coordenação do setor e disseminação tecnológica de informática. Para isto é preciso que organizações e instituições do Agribusiness adotem modelos gerenciais modernos e capacitem-se para uso das tecnologias da informação, não só nos processos produtivos, mas principalmente na gestão.
Do ponto de vista de aplicações dos sistemas de informação informatizados, pode-se considerar como aplicações de interesse geral as seguintes:
Rede de produtores associados a uma cooperativa
Esta rede integraria os produtores à assistência técnica e comercial prestadas pela cooperativa fornecendo informações sobre mercado, clima, preparo do solo, plantio, adubação, colheita, compras de insumos, comercialização dos produtos, alocação do uso de recursos humanos técnicos da cooperativa, informações organizacionais.
Rede de cooperativas e/ou associações
As cooperativas ou associações com o mesmo perfil poderiam trocar informações para reduzir custos com obtenção de soluções, seja tecnológicas gerenciais ou de qualquer outra natureza. Nesta modalidade de rede de informação seriam feitos intercâmbios de informações de mercado, técnicas, mercado externo, importação, exportação, compras de insumos, vendas de produtos e outros assuntos relacionados com o dia-a-dia do associativismo.
Rede pública de extensão agropecuária
Esta rede teria como objetivo integrar produtores com extensionistas e centros de pesquisa através da disponibilização de informações relacionadas com mercado, técnicas, treinamento, pesquisas etc.
Rede verticalizada de informação agro-industrial
Esta rede teria como objetivo integrar a agroindústria com seus fornecedores e clientes visando manter controles de custos de produção, plantio e colheita, qualidade e da produtividade, controle do fluxo de demanda, canais, distribuição, transporte e armazenagem.
Aplicações específicas de sistemas de informação
a) Na Propriedade - controle de processo produtivos, administração em geral, coleta de dados, intervenção em processo, apoio à decisão, controle financeiro, otimização de processos, monitoramento ambiental, comunicação de dados, gestão da qualidade. A chamada agricultura de precisão com máquinas computadorizadas é uma tendência inevitável.
b) Na Agroindústria - controle de processo produtivo, monitoramento ambiental, gestão da qualidade, controle da distribuição, coleta de dados.
c) No setor Público - clima, mercado, ambiente, tecnologia, educação e treinamento, coleta de dados, comunicação de dados.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A indústria de software para agribusiness deve investir em produtos voltados para ambientes operacionais modernos, utilizando ferramentas de produtividade, em parceria com todos os segmentos das cadeias para estabelecer coalisões na tentativa de fortalecer o setor. Há necessidade de difusão da tecnologia de informação e da cultura a ela associada junto às intituições e organizações do agribusiness para que seja possível a inserção do agribusiness brasileiro com poder competitivo no mundo globalizado.
A coordenação das cadeias produtivas e a governância das transações tendem a ficar cada mais complexas exigindo processos de tomada de decisão mais rápidos utilizando sistemas de informação gerenciais interconectados em permanente troca de informações entre as instituições e organizações. Fica cada vez mais difícil, senão impossível, gerenciar uma organização moderna sem um mínimo de conhecimento sobre sistema de informação, principalmente sobre o que são, como podem afetar a organização e seus empregados e como eles podem tornar a organização mais competitiva e eficiente, já que com a tecnologia de informação é possível controlar processos produtivos, interligar escritórios e empresas.
A educação à distância e a produção de CD-ROMs apresentam-se como potenciais alternativas para a difusão da cultura de tecnologia de informação no agribusiness aliadas aos cursos de Especialização Latu-Senso oferecidos pelas instituição de ensino e pesquisa. Há que se fazer um grande esforço cognitivo para levar a informação tecnológica até a prática do homem do campo, onde o nível de escolaridade necessário ainda é baixo. Entretanto a tecnologia multimídia tem se revelado como poderoso instrumento de apoio didático-pedagógico na construção do conhecimento. As aplicações da informática no ensino tem se intensificado nas escolas e as experiências demonstram que no agribusiness a educação agrícola pode se valer dessa tecnologia para reduzir o analfabetismo tecnológico nas cadeias produtivas.
5. Bibliografia