BONANZA: Um Sistema de Gerenciamento dos 
Negócios da Empresa Rural

Autores 

Francisco Armando da Costa
Email: fdacosta@mail.ufv.br
Vínculo: Professor do Departamento de Economia Rural – UFV
Endereço: Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Economia Rural 36.571-000 Viçosa-MG
Telefone: (31) 899-1319

Resumo

A contabilidade reúne um conjunto de princípios que orienta o processo de registros sistemáticos das transações do negócio e, sobretudo, a elaboração de indicadores financeiros que sumarizam os registros, auxiliando na avaliação do desempenho econômica e financeiro da empresa. O BONANZA, desenvolvido em linguagem Delphi, incorpora esses princípios. Ademais, tem a característica de fácil uso, não requerendo dos usuários conhecimento especializado em contabilidade. Apresenta diversos relatórios detalhados contendo as medidas mais relevantes de rentabilidade econômica e financeiro do agronegócio.

Abstract

Accounting is a set of principles and procedures for systematically recording the transactions of the business, preparing financial statements to summarize the records, interpreting them and, above all, helping the manager to evaluate the economic and financial performance. The software BONANZA, developed in Delphi language, incorporates those principles. In addition, it is characterized by having an easy interface with the users, not requesting specialized knowledge in accounting theory from them. It also provides a variety of detailed reports, which suffice to draw conclusions about the economic and financial performance of the agribusiness.

Palavras Chaves

Contabilidade, gerenciamento, administração, BONANZA

1. INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, os maiores desafios dos produtores rurais têm sido reduzir seus custos de produção, aumentar suas receitas, melhorar os índices de eficiência técnica e econômica, enfim, aumentar a lucratividade de seus negócios. Um dos instrumentos fundamentais para alcançar tais metas é o conhecimento do próprio negócio. A chave é a informação, bem como o desenvolvimento de estratégias para uso dessa informação.

Conforme Castle, Becher e Nelson (1987) definem, a contabilidade reúne um conjunto de princípios que orienta o processo de registros sistemáticos das transações do negócio e, sobretudo, a elaboração de indicadores financeiros que sumarizam os registros, auxiliando na avaliação do desempenho econômica e financeiro da empresa. Princípios econômicos fornecem fundamentos teóricos ao processo de tomada de decisão do agronegócio. Princípios contábeis fornecem a base para gerar informações necessárias sobre as atividades do negócio e preparar relatórios financeiros adequados às análises e ao monitoramento do progresso do negócio.

O BONANZA, desenvolvido em linguagem Delphi, incorpora esses princípios. Ademais, tem a característica de fácil uso, não requerendo dos usuários conhecimento especializado em contabilidade. O usuário apenas informa ao programa os dados físicos, tais como quantidade vendida de cada produto, quantidade de insumos usados: fertilizantes, defensivos, mão-de-obra, rações, etc., e dados financeiros, tais como, valor das vendas, valor dos insumos e o inventário da empresa. As demais tarefas ficam por conta do software, que classifica e processa todos os dados, gerando relatórios objetivos na forma de gráficos e tabelas do fluxo de caixa das atividades da empresa, dos custos de produção em suas várias modalidades, isto é, custos variáveis, fixos, de oportunidade do capital, operacionais e totais.

A rigor, os produtores rurais querem resposta à questão: O desempenho dos negócios foi lucrativo ou não? O BONANZA, ao combinar as medidas de custos com as de renda bruta, gera índices de rentabilidade, a partir dos quais ele realiza a análise global, na forma de texto, que descreve o desempenho da empresa, respondendo a essa questão de maneira objetiva e analítica.

2. CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES

Um sistema de informação do agronegócio pode apresentar diversas finalidades. Entretanto, quando se tem em vista gerar informações com o propósito de assessorar o processo de tomada de decisões dos negócios é fundamental que os registros contenham dados de quantidade e do valor do patrimônio da empresa, dos insumos, dos serviços e da produção por empreendimento. A figura 1 mostra o sistema de informação utilizado na concepção do BONANZA.

A disponibilidade desses dados permitirá estimar medidas de eficiências técnica e econômica dos negócios. De um lado, têm-se os índices de produtividade dos fatores de produção que fornecerão, ao administrador, elementos para diagnosticar eventuais ineficiências produtivas e, com isso, fazer os ajustes necessários para melhorar o desempenho técnico do processo produtivo das atividades. Por outro lado, têm-se as medidas de eficiência econômica, derivadas das estimativas dos custos de produção, em suas várias modalidades, e da renda agropecuária.

A elaboração de um sistema de informação deve ser precedida pela definição nítida dos seus objetivos. A escolha do modelo teórico, obviamente, deve levar em consideração o que se pretende acompanhar e analisar. Não se deve perder de vista, a importância de se monitorar tanto os aspectos técnicos de produção, quantidades físicas de uso de insumos, serviços e produtos, quanto os respectivos retornos monetários dos empreendimentos agropecuários. À firma interessa não a máxima produtividade física dos seus fatores de produção, mas sua máxima lucratividade. Resulta desse lema, a importância de acompanhar e analisar os impactos na renda das técnicas de produção. Um sistema de informação deve, pois, incluir dados que permitam gerar informações da tecnologia de produção e dos retornos financeiros dessa tecnologia.

Figura 1 – Organograma do Sistema BONANZA.

3. CARACTERÍSTICAS OPERACIONAIS BÁSICAS DO BONANZA

A figura 2 mostra a tela principal do BONANZA. Para que todos os recursos do BONANZA possam ser utilizados é fundamental entender a lógica de seu funcionamento. Dois aspectos importantes do modelo empregado são: a) Todos os registros de receitas e despesas devem ser especificados para as atividades que lhes deram origem. Lembrando-se que, para o programa realizar as análises do desempenho de cada atividade, torna-se necessário que se forneça essa informação e, b) Todas as análises são realizadas para o período de um ano, quando todos os ciclos produtivos dos empreendimentos agropecuários estão concluídos. Ressalta-se que, embora o BONANZA forneça os resultados do processo produtivo agropecuário da empresa a qualquer momento, somente no final do período escolhido é que a avaliação econômica torna-se plenamente realizada. No decorrer do ano, apenas os resultados de fluxos de caixa, isto é vendas e compras são relevantes e servem de base para orientação dos negócios. Assim, pode-se observar que no início da atividade produtiva, a empresa esteja operando com déficit, o qual será, gradualmente, reduzido à medida que o processo produtivo avança e as receitas provenientes da produção comessem a surgir. A avaliação só poderá ser concluída quando o processo produtivo do período também for concluído.

Em linhas gerais, o programa segue os seguintes passos:

a) Definição do período de trabalho

b) Cadastro das atividades

c) Cadastro do inventário.

d) Registro da taxa de juros, para estimativa do custo de oportunidade do capital empatado durante o processo produtivo.

e) Registros das Contas: Receitas e Despesas

O cotidiano da empresa rural é marcado por uso de insumos (despesas) e venda de produtos (receitas). Informa-se a ocorrência sistemática desses eventos, atribuindo sempre os valores físicos e monetários às respectivas atividades cadastradas.

f) Análises

Uma vez que todos os dados vêm sendo, sistematicamente, fornecido ao sistema, o BONANZA fornecerá um conjunto de tabelas e gráficos que compõem os relatórios para análise do desempenho financeiro e econômico da empresa. Todos os dados fornecidos são consolidados pelo programa para a montagem de indicadores que permitirão ao administrador conhecer o desempenho de cada empreendimento e da empresa como todo.

O processo produtivo da empresa rural combina fatores de produção: terra, capital e trabalho, para produzir, geralmente, múltiplos bens e serviços. Quando a empresa é especializada num único produto, todos os custos são, diretamente, atribuíveis a esse produto. Isso torna o processo contábil, relativamente, simples. As dificuldades crescem quando o processo produtivo é diversificado, que é o caso mais freqüente . As atividades são mais integradas e a separação de suas despesas torna-se, gradualmente, mais complexa.

Há dois conceitos importantes, nesse aspecto: a) despesas específicas e b) despesas gerais(Hoffmann et alii, 1987). As despesas específicas são aquelas que podem ser atribuídas diretamente a uma cultura, como por exemplo, a semente de soja e o fertilizante aplicado na soja são despesas bem definidas da cultura da soja. A ração que alimenta as vacas leiteiras é uma despesa específica da atividade leite, e assim por diante. Por outro lado, as despesas de manutenção do armazém, que é utilizado pela soja, pelo milho, pelo feijão, pela ração dos animais, etc., não podem ser totalmente consideradas como despesa da soja. Outro exemplo, o imposto territorial rural também não pode ser atribuído unicamente à cultura da soja. Essas são despesas que podem ser consideradas como Gerais, as quais devem ser repartidas entre as diversas culturas que compõem o sistema de produção da empresa rural, para fins de avaliação por setor de produção. Obviamente, essa divisão das despesas gerais entre as atividades só é relevante para a análise do desempenho de cada exploração, não afetando a análise do desempenho global da empresa.

Assim, quando uma despesa não for especificada para determinada atividade, o BONANZA fará automaticamente a repartição dessa despesa entre todas as atividades, proporcionalmente à renda de cada uma delas. Essa divisão ocorrerá também para a depreciação e o custo de oportunidade do capital da empresa. Esse procedimento facilita bastante o processo de obtenção de dados de campo, uma vez que elimina a necessidade de se registrar, por exemplo, continuamente, o número de dias, ou horas que cada item do capital da empresa foi utilizado por determinada cultura, para fins de estimativa da depreciação e do custo de oportunidade atribuíveis à esta cultura.

A depreciação do capital da empresa é feita pelo BONANZA, utilizando a fórmula de depreciação linear, dividindo-se o valor do capital por sua vida útil, que consta em tabelas fornecidas pelo programa.

O custo de oportunidade é estimado multiplicando-se a taxa real de juros de mercado, à escolha do usuário, pelo capital médio empatado durante o período de análise. Isso é feito automaticamente pelo BONANZA.

Como os custos do capital estável da empresa ( terra, benfeitorias, máquinas e animais de produção) são determinados a partir do valor do capital, é importante que o inventário da empresa seja, devidamente, fornecido. Caso isso não seja feito, o programa não poderá incluir nas análises os custos de depreciação e de oportunidade da empresa, fornecendo apenas, os fluxos de receitas e de despesas diretas. Neste caso, os custos totais de produção serão iguais aos custos variáveis. Deve-se ressaltar que uma análise econômica mais profunda exige a incorporação dos custos do capital.

Figura 2 . Tela principal do BONANZA
Fonte: BONANZA: Manual do Usuário (1999)

Os relatórios são apresentados em forma de tabelas, gráficos e texto.

a) Tabelas

1 - Fluxos de entradas ( vendas ) e saída ( despesas ) de dinheiro;

2 - Renda e Custo de produção: informa os custos de oportunidade, depreciações e variações do patrimônio, renda bruta total, custos unitários e totais de produção por atividade e para a empresa como todo, medidas de rentabilidade econômica e financeira.

4 - Controles de contas a pagar e contas a receber;

b) Gráficos

• Receitas totais
• Despesas totais
• Fluxo de caixa
• Despesas com insumos por atividade
• Composição do capital

c) Texto

• Relatório que analisa o desempenho econômico global da fazenda, conforme os resultados de rendas e custos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o final da década de oitenta, as opções de informações disponíveis para os produtores têm mudado, substancialmente. O rápido desenvolvimento dos computadores, dos software e da tecnologia de comunicação vem proporcionando redução dos custos da informação e aumentando sua disponibilidade. A própria redução dos preços dos microcomputadores no mercado brasileiro e o aumento da oferta de aplicativos destinados a auxiliar o administrador rural em seu processo de decisão vêm despertando o interesse dos produtores rurais, especialmente, daqueles mais empreendedores que já perceberam as vantagens desse moderno instrumento de apoio ao gerenciamento.

A disponibilidade e o uso de informação podem ser o divisor entre o fracasso e o sucesso do agronegócio. O controle do agronegócio, por meio de registros contábeis físico e financeiro, quando bem estruturado, pode fornecer informações relevantes para o gerenciamento do processo produtivo, auxiliando as decisões administrativas da empresa, com vistas ao melhor desempenho dos empreendimentos. Essa é a proposta central do BONANZA.

5. REFERÊNCIAS