AGROSOFT 99
II Congresso da SBI-Agro


A Informática na Agricultura Paulista

 

Autores 

Vera Lúcia Ferraz dos Santos Francisco
Email: veralfrancisco@iea.sp.gov.br
Vínculo: Instituto de Economia Agrícola
Endereço: Av. Miguel Stéfano, 3900; CEP: 04301-903 – São Paulo, SP, Brasil
Telefone: (011) 577-0133 e fax: (011) 276-4062

Nelson Batista Martin
Email: nbmartin@iea.sp.gov.br
Vínculo: Instituto de Economia Agrícola
Endereço: Av. Miguel Stéfano, 3900; CEP: 04301-903 – São Paulo, SP, Brasil
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Resumo

O trabalho objetiva discutir a relação entre o uso de computadores na agricultura com o tamanho das unidades de produção agropecuárias(UPAs), nível de instrução do proprietário, alguns indicadores tecnológicos, região agrícola e atividade agropecuária explorada no Estado de São Paulo, 1995-96. Verificou-se que apesar de que em apenas 3,7% das UPAs os proprietários que utilizavam o computador nas atividades agropecuárias, estes cultivavam cerca de 19,7% da área rural do Estado. Em termos de tamanho das unidades de produção, naquelas com área de até 100 hectares, a utilização de computadores foi muito pequena, enquanto que naquelas com área superior a 500 ha, a proporção subia substancialmente. Quanto as regiões agrícolas do Estado de São Paulo, a maior concentração no uso de computadores ocorreu naquelas onde prevaleciam as culturas de produção de grãos, cana-de-açúcar e citrus. Por outro lado observou-se que entre os proprietários que utilizavam o computador na atividade agropecuária 56% possuíam o nível superior. Verificou-se também uma associação direta entre o uso de computadores e a utilização de técnicas de manejo agrícola.

Abstract

This paper analyses computer use in agriculture according to farms (UPAs) size, farmers education, technology level, the agricultural region and the farming crops in São Paulo state, 1995-96. Though agricultural area attain to 19,7% of the state, only 3,7% of the farms use computer in their farming crops. Computer use has been little in farms with area until 100ha. But it is crescent in farms with more than 500ha. Computer use has been larger in regions which prevail grains, sugar cane and orange. Otherwise, 56% of computers user in agriculture are higher education. There is high correlation between computer use and agricultural technology.

Palavras chaves

informática na agricultura, censo agrícola, agricultura e computação, adoção da informática na agricultura.

 

1. INTRODUÇÃO

A informática constitui uma inovação tecnológica com enorme potencial para aumentar a produtividade dos recursos produtivos na agricultura e no suporte a geração de banco de dados para tomada de decisões gerenciais(Martin, 1993). Tendo em vista que nos últimos anos os custos dos equipamentos de informática vem se reduzindo continuadamente em termos reais e que a disponibilidade de software específicos para a agricultura tem aumentado (AGROSOFT, 1997), torna-se importante caracterizar como esta nova tecnologia está sendo utilizada pelos agricultores do Estado de São Paulo.

Ter na tela do computador informações de universidades, empresas, especialistas e instituições de pesquisa de várias parte do mundo; acessar informações de mercado e negociar sem sair do escritório em bolsas de mercadorias ou futuros; acessar informações de climas on lyne, planejar com segurança o plantio e dispor de informações gerenciais com níveis de detalhe nunca antes disponíveis. Essa é a oportunidade que os agricultores podem dispor, uma vez que na última década do século XX, essa possibilidade faz parte da vida diária de muita gente, num mundo em que a informática está em todas as empresas e em grande número de lares. No campo brasileiro, a invasão dos computadores também é uma realidade, embora ocorra em ritmo bem mais lendo do que nas cidades (GLOBO RURAL, 1996).

Assim, com o término do levantamento censitário das unidades de produção agropecuárias existentes no Estado de São Paulo, também conhecido por projeto LUPA realizado nos anos de 1995 e 1996 e publicados tanto em nível de município (Pino et al., 1997, Francisco et al., 1998) como em nível regional (Francisco et al.,1997), onde incluiu-se questões relativas a disponibilidade e uso de computadores na agricultura. A análise desses dados objetiva a apresentação das informações relativas ao uso dessa tecnologia no sentido de avaliar o seu nível de adoção, uma vez que praticamente não se dispõe destas informações ao nível dos produtores. O objetivo deste trabalho é que através dessas informações possa se verificar como essa tecnologia estava sendo utilizada nos anos do levantamento referido.

 

2. METODOLOGIA

Utilizaram-se nesta análise os dados obtidos a partir do Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agrícola (Projeto LUPA) realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), ambos órgãos da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo (SAA), incluindo o refinamento dos dados proposto por Pino & Francisco (1999). O levantamento abrangeu explorações vegetais, animais e indicadores sócio-econômicos sendo a unidade básica de levantamento correspondendo, quase em sua totalidade, ao conceito de imóvel rural entendido como o conjunto de propriedades contíguas do(s) mesmo(s) proprietário(s) e denominada unidade de produção agropecuária (UPA). Maiores detalhes sobre conceitos e metodologias utilizados no levantamento estão descritos em Pino (Org., 1997).

A estratificação da área total das UPAs utilizada segue uma escala logarítmica de base 10 e acrescida dos valores 2,5 e seus múltiplos.

Para atender o objetivo do trabalho utilizou-se as variáveis nível de escolaridade do proprietário, área total da UPA, indicadores como análise do solo, prática de conservação, prática de calagem, utilização de sementes melhoradas e utilização de assistência técnica privada; e área cultivada das diversas explorações vegetais.

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram contabilizados 10.134 unidades de produção agropecuária cujos proprietários utilizavam o computador nas suas atividades agropecuárias, de um total de 277.127 unidades levantadas, isto é, apenas 3,7 % das unidades de produção agropecuária faziam o uso de computador na condução dos seus negócios (Francisco et al., 1998) e cultivavam cerca de 3,0 milhões de hectares, o que equivalia a 19,7% da área agrícola do Estado de São Paulo.

O índice educacional dos proprietários que declararam utilizar o computador nas suas atividades agropecuárias pode ser considerado relativamente alto quando se observa que 56,3% deles tinham nível superior completo. Chama a atenção do fato de que a proporção de proprietários com 1º grau completo é um pouco mais da metade daqueles que não possuem instrução e daqueles com 1º grau incompleto (Figura 1).

Figura 1 – Nível de Escolaridade dos Proprietários que Utilizam Computador na
Agropecuária, Estado de São Paulo, 1995-96.

Analisando as informações segundo os estratos de área da UPA, a utilização do computador na atividade agropecuária eleva-se de 0,6% no estrato de 0 a 1 hectare chegando a 64,7% no estrato de área que compreende 5.000 a 10.000 hectare , com exceção do último estrato apresentando uma proporção de 39,3% (Figura 2).

A adoção do uso de computador nas unidades de produção apresentou uma grande correlação com a de outras técnicas e ou processos de produção, visando maior eficiência e competitividade do negócio agrícola. Assim, verificou-se que 40% dos produtores das UPAs que utilizavam computador também utilizavam assistência técnica privada; 91 % deles utilizavam análise de solo como prática permanente; 91% faziam calagem; 92 % faziam conservação de solo e 67% utilizavam sementes melhoradas.

Figura 2 – Utilização de computadores por classe de área, Estado de São Paulo, 1995-96.

As regionais agrícolas onde encontrou-se maior utilização de computadores foram , na ordem decrescente de participação relativa dentro da regional, a de Orlândia com 15,6%, seguida de Barretos com 7,4%, Catanduva com 6,4% e Araraquara, Jaboticabal e Mogi Mirim com 6,2%. Deve-se ressaltar que as regiões acima assinalas, quanto à distribuição das áreas de culturas perenes e semi-perenes, apresentavam as maiores participações em relação ao total no Estado, sendo que a de Orlândia também apresentavam grande participação com culturas anuais (Francisco et al., 1997). Os menores percentuais estavam em Fernandópolis , Guaratinguetá, São Paulo e Votuporanga (Tabela 1).

Outro aspecto relevante do Censo Agropecuário realizado pelo Projeto Lupa em relação ao uso de computador na agricultura, se refere a área das atividades agrícolas das UPAs que utilizavam essa tecnologia. Pois, enquanto apenas 6,9 % das unidades que cultivavam a cana-de-açúcar utilizavam computador, essas unidades representavam cerca de 34,1% da área cultivada com a cultura no Estado. Assim, verificou-se que as áreas das UPAs que utilizavam computador representavam cerca de 32% da área plantada com eucalipto, 23% da área com café, 39,7% das áreas com colonião- bovinos e 13,2% com áreas com braquiárias(bovinos) (Tabela 2).

Essa pesquisa indicou que o uso de computadores na agropecuária deverá crescer nos próximos anos, como pode ser observado na pesquisa efetuada pela Research International Brasil para a Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR), em que verificou-se que em 1992 o computador aparecia com traços na pesquisa. Mas, em 1998 que 18% dos produtores rurais dos 10 principais estados agrícolas brasileiros, possuíam computadores, e desses, 4% estavam ligados na Internet (DBO RURAL , 1999). 

Escritório de
desenvolvimento rural
Número de UPAs  Percentual em relação 
Total  Utilizam computador  à Regional  ao Estado 
Andradina 5.542  168  3,0  1,7 
Araçatuba 7.784  138  1,8  1,4 
Araraquara 5.906  364  6,2  3,6 
Assis 8.091  218  2,7  2,2 
Avaré 6.361  279  4,4  2,8 
Barretos 8.505  739  8,7  7,3 
Bauru 5.248  206  3,9  2,0 
Botucatu 6.120  251  4,1  2,5 
Bragança Paulista 9.756  105  1,1  1,0 
Campinas 7.793  327  4,2  3,2 
Catanduva 7.904  509  6,4  5,0 
Dracena 8.664  139  1,6  1,4 
Fernandópolis 4.105  55  1,3  0,5 
Franca 5.553  301  5,4  3,0 
General Salgado 6.725  100  1,5  1,0 
Guaratinguetá 5.741  88  1,5  0,9 
Itapetininga 10.782  240  2,2  2,4 
Itapeva 9.046  100  1,1  1,0 
Jaboticabal 8.516  524  6,2  5,2 
Jales 8.304  61  0,7  0,6 
Jaú 6.402  475  7,4  4,7 
Limeira 8.056  345  4,3  3,4 
Lins 4.667  108  2,3  1,1 
Marília 4.251  244  5,7  2,4 
Moji das Cruzes 3.878  193  5,0  1,9 
Mogi Mirim 5.645  352  6,2  3,5 
Orlândia 4.796  749  15,6  7,4 
Ourinhos 6.789  223  3,3  2,2 
Pindamonhangaba 6.998  212  3,0  2,1 
Piracicaba 7.092  304  4,3  3,0 
Presidente Prudente 8.506  194  2,3  1,9 
Presidente Venceslau 5.405  167  3,1  1,6 
Registro 8.597  100  1,2  1,0 
Ribeirão Preto 5.995  339  5,7  3,3 
São João da Boa Vista 10.163  420  4,1  4,1 
São José do Rio Preto 11.782  192  1,6  1,9 
São Paulo 2.255  60  2,7  0,6 
Sorocaba 8.578  276  3,2  2,7 
Tupã 6.099  175  2,9  1,7 
Votuporanga 4.728  95  2,0  0,9 
Estado 277.127  10.135  3,7  100,0 

Tabela 1 : Utilização de Computador na Agropecuária, Estado de São Paulo, 1995-96.  

  Área cultivada  Número de UPAs 
Exploração
vegetal
Utilizam Computador Estado  Utilizam Computador Estado 
Braquiária (bovinos) 1.002.196,1  7.608.523,2  13,2  4.204  147.678  2,8 
Cana-de-açúcar 985.252,0  2.886.200,3  34,1  4.848  70.112  6,9 
Eucalipto 217.420,6  679.639,2  32,0  2.052  38.153  5,4 
Laranja 209.641,2  865.501,8  24,2  1.498  35.883  4,2 
Milho 173.925,6  1.235.906,2  14,1  2.891  84.911  3,4 
Capim-colonião 117.670,0  395.799,1  29,7  432  4.352  9,9 
Soja 90.662,1  714.486,6  12,7  720  9.412  7,6 
Café 52.714,2  229.092,1  23,0  968  28.400  3,4 
Feijão 23.914,7  162.208,3  14,7  489  18.056  2,7 
Algodão 20.282,5  160.651,0  12,6  192  8.134  2,4 
Pinus 18.595,0  136.052,2  13,7  138  1.319  10,5 
Amendoim 16.622,0  61.778,6  26,9  146  2.069  7,1 
Capim-napier 13.514,7  119.640,1  11,3  1.002  27.749  3,6 
Seringueira 11.244,7  40.608,8  27,7  239  2.472  9,7 
Sorgo 10.859,7  35.639,9  30,5  224  2.111  10,6 
Batata inglesa 5.541,3  25.041,9  22,1  102  1.687  6,0 
Arroz 5.348,8  45.535,0  11,7  288  11.183  2,6 

Tabela 2: Importância Relativa das Áreas das Principais Atividades Agropecuárias e
do Número das UPAs que Utilizam Computador, Estado de São Paulo, 1996-96.

 

4. REFERÊNCIAS

  • DBO RURAL (1999). Pesquisa revela perfil do produtor rural, Ano 18, n.º 224, São Paulo, p.66, junho.
  • Francisco, Vera L.F.S. et Al (1997). Censo agropecuário no Estado de São Paulo: resultados regionais. Informações Econômicas, SP, v.27, n.11, p. 7-140, nov.
  • Francisco, Vera L.F.S. et Al (1998). Levantamento censitário de unidades de produção agrícola: novos municípios. Informações Econômicas, SP, v.28, n.6, p.69-100, jun.
  • GLOBO RURAL (1996). Na tela a busca da eficiência, revista Globo Rural – Economia, pg. 95-92, janeiro.
  • Martin, Nelson Batista (1993). A informática no campo, Informações Econômicas, São Paulo, v. 23(8):41-43, agosto.
  • Pino, Francisco A. et al. (orgs) (1997) Levantamento censitário de unidades de produção agrícola do Estado de São Paulo. São Paulo:IEA/CATI/SAA, 4v
  • Pino, Francisco & FRANCISCO, Vera L.F.S. (1999) Combinação de culturas na agricultura paulista. Informações Econômicas, SP, v.29, n.10, out.
  • Revista AGROSOFT (1997). Guia Agrosoft 97: 146 opções prontas para uso, n.º 1, p.3-18, abril/maio.