AGROSOFT 97
I Congresso da SBI-Agro

 

Proposta de Ação para Apoio ao Desenvolvimento de Software para Agribusiness

 

Adauto Roberto Ribeiro
Economista, diretor do Instituto de Estudos Econômicos em Software - IEES.

 

Abstract

The article is concerning about the possibilities for the software development into Brazilian agribusiness area. The article seems to achieve a new proposal to the sector planning, to demostrate that coordination and support measures, which want to structure that agribusiness area are essential. This happens due to the characteristic of the sector: it is composed by small non-capitalized software developers companies, that a have little technological basis and appart from a great potential marketplace.

The lacks shown by this marketplace are huge, which justify the basic proposal that is to promote a minimum organizational pattern. This is the right moment to incorporate Information Technology into Brazilian agribusiness area which the goal is to continue competitive.

Keywords

software, planning, agribusiness.

1. INTRODUÇÃO

Agribusiness, ou agronegócio, é o termo usado para denominar todo um conjunto de agentes econômicos interligados à produção agropecuária, incluindo as instituições que dão suporte e apoio ao setor. O conceito de agribusiness altera o antigo conceito de um setor rural centrado na propriedade agrícola e voltado somente para o processo produtivo, para um conceito dinâmico de cadeia produtiva envolvendo os diferentes agentes econômicos em suas inter-relações e incorporando definitivamente o consumidor ao processo.

O peso econômico dessa mudança de conceito é esclarecedor do novo patamar de importância que o setor assume. Analisado tradicionalmente, o setor rural representa hoje algo ao redor de 10% do PIB brasileiro, enquanto que no conceito de agribusiness esta participação representa cerca de 40% do PIB, ou seja, um negócio que envolve cerca de 240 bilhões de dólares.

Sob esse novo conceito, a evolução do setor exige e apresenta uma imensa variedade de possibilidades de incorporação de novas tecnologias, e em especial do uso da informática, que passa a ser essencial para que esta complexa rede de cadeias produtivas se torne eficiente, aumentando a sua competitividade em um mercado cada vez mais globalizado. A informática é uma ferramenta estratégica para o aumento da competitividade e produtividade das unidades produtivas isoladas e do sistema agrícola como um todo.

Em recente levantamento realizado para observar a oferta de software para o setor existente no mercado nacional, constatamos que apenas, aproximadamente, 3% dos produtos são voltados para o agribusiness, o que é pouco para um setor que representa 40% do PIB brasileiro.

Isto significa que existe um grande mercado potencial para software nas cadeias agro-industriais brasileiras. Esse mercado, pelo que se constatou, não se encontra atendido por tecnologia provinda do exterior, pelo contrário, existem gargalos para o desenvolvimento do mercado internamente, a começar por seu usuário principal, o produtor, seguido por problemas no desenvolvimento dos produtos e pela falta de organização no fluxo de informações dentro de cada cadeia agroindustrial, que resultam em dificuldades para a tomada de decisões que são importantes para o desenvolvimento e implementação de projetos e produtos no setor.

Para evidenciar o avanço da informática no segmento rural, observamos alguns dados sobre o percentual de uso de computadores por agricultores em países selecionados.

EUA - 40%
Austrália- 40%
Japão - 20%
Inglaterra - 17%

No Brasil, infelizmente não possuímos acompanhamento sistemático destes valores, mas dados esporádicos demonstram que o setor pecuário é o mais informatizado em nossa agricultura, embora não tenhamos estimativas para todo o setor agrícola. O Prof. André Zambalde, da Universidade Federal de Lavras, é um dos pesquisadores que vem acompanhando esta evolução em seus trabalhos, e detectando o maior uso de software no Brasil pelo setor pecuário. Nós também observamos que o tipo de software mais produzido no Brasil é o pecuário, segundo dados de oferta na Revista Exame Informática (1996), e no Sistema Brasileiro de Informação sobre Software - SBIS (1996).

Além dos dados de informatização, constatamos em contato direto com produtores de software, o rápido crescimento em vendas, ou seja, o aumento da demanda por software que vem ocorrendo por parte de segmentos do agribusiness, em especial, o de pecuária de corte e leite, o sucro-alcooleiro, a avicultura, a fruticultura, e outros de menor expressão econômica.

 

2. A INFORMATIZAÇÃO NO AGRIBUSINESS

A informatização no setor de agribusiness pode se dar basicamente de duas formas: através de sistemas de informação ou de softwares aplicativos, voltados para gerenciamento de atividades ou controle de processos.

No Brasil, predomina o uso de softwares aplicativos nas propriedades, geralmente produtos para administração e, ou, controle e análise de processos muito simplificados . Pouco tem sido feito em relação a sistemas de informação. Pouco também existe de software embarcado (por exemplo: sensores para armazenamento, irrigação, classificação de produtos, preparo de solo, etc.). Alguns segmentos dentro do setor, no entanto, tem se estruturado por possuírem uma liderança bem definida na cadeia produtiva, geralmente uma empresa verticalizada, onde sistemas informatizados tem orientado o processo produtivo e organizacional do segmento.

Nos últimos anos e, mais acentuadamente, nos últimos meses vem ocorrendo um rápido avanço na difusão de equipamentos para informática no país, fruto de diversos fatores, entre eles, da abertura comercial, da baixa de preços dos produtos, da melhoria na rede de distribuição e do crediário para estas aquisições. O aumento nas vendas destes equipamentos também tem atingido o setor de agribusiness, o que nos leva a levantar a hipótese de que está ocorrendo também aumento de demanda por software (em consulta a algumas empresas de software para o agribusiness observou-se aumento na venda dos seus produtos), acompanhando o aumento das vendas de hardware.

Em seu diagnóstico a esse respeito, a Embrapa afirma que o problema está na quantidade de software no mercado brasileiro que é pequena para o tamanho do mercado, e que está muito orientada para nichos específicos. A maioria desses produtos é voltado para segmentos específicos no setor agropecuário, em especial o pecuário, e não para o agribusiness, como frisamos, que é bem maior.

Estamos propensos a concordar com este diagnóstico acrescentando um importante aspecto que inibe o desenvolvimento de produtos mais completos para o setor, que é o escasso envolvimento da pesquisa e do consumidor no processo de desenvolvimento, o que afeta também a qualidade do produto e sua possibilidade de atender com mais eficácia o setor.

Levantamento executado com a finalidade de comparar os produtos existentes no mercado nacional através de duas fontes internas e dos produtos existentes no mercado europeu, que constam do catálogo da EUNITA (Farmsoft), mostraram que:

a) Predomina no Brasil o software para pecuária. O mesmo acontece na Europa, mas com um percentual menor.

  1. O tipo "outros" que envolve software voltado para sistemas de informação (de preços, dados agrometeorológicos, etc.) e de uso agro-industrial, tem um percentual maior na Europa do que no Brasil.

Distribuição percentual dos produtos de software por tipo.

Tipo de Software Europa
(Farmsoft - EUNITA)
(%)
Brasil
(Exame Informática e SBIS)
(%)
Pecuário 40 50
Agrícola 16 19
Administrativo 30 25
Outros 14 6
TOTAL 100,00 100,00

Para conhecer melhor estas empresas realizamos, em 1996, uma pesquisa que mostrou o perfil predominante das firmas brasileiras de software para o agribusiness, foram avaliadas 33 empresas.

A maioria das empresas (53%) fatura abaixo de 100 mil dólares anuais, e 34% faturam entre 100 e 500 mil dólares anuais.

Mais de 70% das empresas pesquisadas possuem menos que 10 funcionários em seus quadros e quase a metade delas não possue um mestre entre seus funcionários.

De maneira geral, investem pouco em treinamento para os funcionários, Apenas 6% possuem programa de qualidade implantado.

Estes números evidenciam a baixa lucratividade do setor, o que certamente é o principal motivo do pequeno número de produtos.

Por sua vez, a baixa lucratividade está relacionada com a especialização do software brasileiro, que privilegia alguns segmentos, em especial o pecuário e não o setor agro-industrial, onde existem maiores e melhores oportunidades de crescimento, esta elitização diminui o mercado e encarece o produto, muito mais parecido com uma consultoria individualizada.

Assim, as perspectivas de crescimento do mercado de software para agribusiness, no nosso entender, passam pela incorporação do conceito de informática como fator de competitividade do setor, pela urgente alteração de prioridades envolvendo a qualidade dos produtos como ponto fundamental de sucesso, e pelo crivo do consumidor no diagnóstico e solução de seus problemas.

As possibilidades maiores de crescimento estão nos sistemas de informação dentro das cadeias produtivas, permitindo informações em tempo real, no desenvolvimento de banco de dados, intensificando o volume de informações disponíveis para a correta tomada de decisões, na modelagem de processos que afetam o ambiente produtivo, sejam físicos ou biológicos, facilitando o acompanhamento dos processos e seus impactos ambientais, e outros, envolvendo conhecimentos específicos e educação.

No entanto, a baixa capacidade de investimento das empresas desenvolvedoras de software para o setor suscita a necessidade de financiar o desenvolvimento de produtos, bem como a absorção da tecnologia de informação pôr parte dos consumidores, em geral, produtores rurais, empresas agropecuárias, extensão rural oficial ou privada, cooperativas, associações, escolas.

 

3. AÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA AGRIBUSINESS

Para maximizar o impacto positivo do aumento da informatização que vem ocorrendo no país, e minimizar o impacto da frustração frente à novidade tecnológica, que ocorre quando nos deparamos com um produto que não satisfaz nossas exigências, as ações necessárias para o apoio ao desenvolvimento de software para o agribusiness devem permitir:

  • capturar as necessidades do consumidor,
  • envolver as universidades, centros e institutos de pesquisa nas possíveis soluções técnicas para estas necessidades,
  • estimular as empresas desenvolvedoras de software, isoladamente ou em pool, para que produtos de boa qualidade, eficientes e de fácil relacionamento com o usuário cheguem ao mercado,
  • procurar investidores para alavancar o desenvolvimento de produtos.
  • envolver investimentos para aumento da demanda pelos produtos.

Consideramos fundamental a participação do pesquisador, para dar consistência técnica ao produto como primordial, bem como a participação do consumidor, representado pelo setor agro-industrial, produtor, associação ou cooperativa.

As empresas de software em sua maioria não dispõem de recursos financeiros e humanos para atender o setor de agribusiness com a devida qualidade, por isso, a idéia de consórcio ou parceria, que venha a fortalecer as condições de desenvolvimento dessas empresas, ganha força, bem como aumenta a capacidade de articulação e negociação para obtenção de recursos financeiros externos. O sucesso do projeto depende ainda do desenvolvimento de produtos que ofereçam soluções simples mas com qualidade.

Considerando que o mercado de software para agribusiness está aumentando. A capacidade de pesquisa agronômica instalada em nosso país é grande e reconhecida internacionalmente por sua qualidade técnica, e a capacidade dos nossos produtores e suas cooperativas e associações também é reconhecida. Associando-se a isso a capacidade e criatividade das nossas empresas, vemos que podem se desenvolver no país rapidamente bons produtos voltados para o agribusiness, e que o país pode também se destacar no cenário externo com software competitivo de excelente qualidade.

A organização do setor para atender os objetivos expostos exige:

a) identificar empresas interessadas em uma ação de parceria estratégica para desenvolvimento/aprimoramento de software para agribusiness.

b) levantar necessidades do setor que possam ser resolvidas por software, quer sejam necessidades tecnológicas de processo ou de sistemas de informação, identificando conjuntamente os setores onde empresas ou associações/instituições lideres já iniciaram este processo.

c) incorporar instituições de pesquisa agropecuária e universidades para levantar tecnologias, que possam atender às necessidades citadas.

d) incorporar capital (investimento) ao processo para produção do software.

e) disponibilizar fontes de financiamento para apoio aos demandantes do software (cooperativas, extensão rural, associações, produtores, ensino).

f) coordenar o processo de diagnóstico nas cadeias agro-industriais, bem como a criação das parcerias e consórcios.

g) acompanhar o desenvolvimento dos produtos.

 

4. POSSIBILIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE NO AGRIBUSINESS

Considerando que um dos problemas fundamentais que impede o desenvolvimento de software para o agribusiness está nas deficiências que ocorrem neste mercado, a solução passa pela adoção de mecanismos e instrumentos que procurem corrigir estas falhas.

Estes mecanismos seriam: estímulo a formação de alianças/parcerias, estruturação de canais tecnológicos e mercadológicos, disponibilização de informações, disponibilização de financiamento, apoio jurídico e busca por incremento de qualidade.

E os instrumentos necessários poderiam ser: rodadas de negócios, prospeção tecnológica, prospeção mercadologica, assessoria creditícia, jurídica e para a implementação de processos com qualidade, eventos setoriais, cursos e seminários.

A implementação destes instrumentos se daria através de articulação entre organismos públicos e privados, orientados por um planejamento setorial. Neste caso, seriam de fundamental importância, a presença da Embrapa, da Finep, do Bndes, das organizações cooperativas e empresas privadas de destaque no agribusiness brasileiro.

Exemplificando o que consideramos mercados promissores para tecnologia de informação no agribusiness, temos:

a) o caso de uma rede de produtores associados a uma cooperativa

A informatização de produtores ligados a uma cooperativa geraria benefícios para o setor agrícola e aumentaria a competitividade do produto gerado. A tecnologia de informação teria a função, neste caso, de integrar os produtores à assistência técnica e comercial prestada pela cooperativa. Os produtos desta integração seriam:

  • informações climáticas e mercadológicas;
  • informações técnicas - preparo do solo, plantio, adubação, colheita;
  • controle das compras de insumos para os cooperados pela cooperativa (compras conjuntas);
  • controle da venda dos produtos cooperados (vendas conjuntas);
  • maximização do uso dos recursos humanos técnicos da cooperativa;
  • informações organizacionais.

Atores potenciais: agricultores e cooperativas.

b) o caso de uma rede de cooperativas e/ou associações

Sistemas informacionais podem integrar cooperativas com o mesmo perfil. Os benefícios se dariam através do uso de sistemas que propiciassem:

  • informações meteorológicas, mercadológicas e técnicas;
  • acompanhamento do mercado externo, importações e exportações;
  • compra de insumos e venda de produtos;
  • formação de rede de pesquisa agrícola cooperativa.

Atores potenciais: cooperativas, associações.

c) o caso de uma rede pública de extensão agropecuária

Sistema com o objetivo de integrar produtores e extensionistas públicos através da disponibilização de:

  • informações técnicas e mercadológicas;
  • treinamento a distância.

Atores potenciais: Sistema Embrater e Secretarias Estaduais de Agricultura.

Sistema para a integração entre centros de pesquisa e com extensionistas.

  • informações técnicas;
  • pesquisa cooperativa;
  • treinamento a distância.

Atores potenciais: Sistema Embrapa, Sistema Embrater, Cooperativas, Empresas privadas.

d) o caso de uma cadeia agro-industrial específica verticalizada.

Integração entre uma agroindústria específica e seus fornecedores/produtores.

A implementação de sistemas informacionais na cadeia agro-industrial permite melhorar a eficiência do processo produtivo em toda a extensão da cadeia através da informatização segmentada ou total dos estágios que a compõe.

  • controle do processo produtivo agropecuário (controle do plantio, condução da cultura e colheita);
  • controle dos custos da produção;
  • controle da qualidade do produto (qualidade da matéria-prima, do transporte e do produto final).

Integração da agroindústria com o mercado distribuidor.

  • controle do fluxo de demanda - quantidade e qualidade;
  • controle da frota de entrega do produto (controle da distribuição do produto);
  • coleta de dados sobre alterações na preferência e hábitos do consumidor.

Integração da agroindústria com seus fornecedores (não agrícolas).

  • controle da entrega e qualidade dos fornecedores.

De outro lado, observando através dos agentes envolvidos no processo, ou do locus de atuação da tecnologia de informação, vemos como possibilidades para implementação de produtos de informática (software) no agribusiness:

a) na propriedade (junto ao produtor)

  • controle de processos produtivos internos (administração, coleta e análise de dados, e intervenção no processo). Sistemas de Apoio a Decisão - SAD, sistemas para controle financeiro e administrativo, sistemas para otimização de processos, etc.;
  • sistemas de monitoramento ambiental (perdas de solo, qualidade da água, etc...);
  • coleta e envio de dados para um sistema mais amplo (externo). Por exemplo, sistema para detecção de ponto ideal de colheita, de aplicação de defensivos, etc.;
  • recebimento de informações gerenciais e técnicas (externo).

b) na agroindústria

  • controle do processo produtivo interno;
  • monitoramento ambiental;
  • controle dos produtos oriundos da agricultura (quantidade/qualidade);
  • controle da distribuição e manutenção do produto no atacado/varejo;
  • coleta de informações no ponto de vendas (retroalimentação do sistema).

c) no setor público (instituições afins)

  • coleta de informações de interesse geral (meteorologia, preços, recursos);
  • distribuição de informações técnicas e mercadológicas;
  • educação e treinamento a distância;
  • levantamentos de dados estatísticos;
  • disponibilização de dados para tomada de decisão de instituições públicas (através de políticas públicas) ou instituições privadas (através de investimentos privados).

 

5. CONCLUSÃO

Aabertas desde que s possibilidades para o desenvolvimento de software para o agribusiness brasileiro são grandes e estão sejam executadas atividades de apoio e coordenação que visem dar uma estrutura a este mercado, no momento, composto de pequenas empresas desenvolvedoras de software não capitalizadas, com pouca base tecnológica e separadas de um grande mercado potencial. As deficiências apresentadas por este mercado são enormes, o que justifica a proposta básica que é prover o setor de um minímo de organização.

A proposta esboçada neste trabalho procura adequar a ação de órgãos e instituições para uma melhor coordenação do setor. O momento é adequado, o segmento agribusiness no Brasil é competitivo, e a grande meta é manter esta competitividade, ao mesmo tempo em que se desenvolvem tecnologias apropriadas e sistemas especialmente voltados para o setor.