AGROSOFT 97
I Congresso da SBI-Agro

 

Sistemas informatizados de gestão ambiental aplicados à agricultura

 

Thomas Keßeler
ulb209@ibm.rhrz.uni-bonn.de
Institut f. ldw. Betriebslehre / Uni Bonn
Meckenheimer Allee, 174. 53117. Bonn. Alemanha
Tel: 0049 228 73 35 04. Fax: 0049 228 73 34 31

Aziz Galvão da Silva Jr.
ulb20b@ibm.rhrz.uni-bonn.de
Institut f. ldw. Betriebslehre / Uni Bonn
Meckenheimer Allee, 174. 53117. Bonn. Alemanha
Tel: 0049 228 73 35 04. Fax: 0049 228 73 34 31

Resumo

O objetivo do artigo é discutir as possibilidades de aplicação de sistemas informatizados de gestão ambiental na agricultura e indústria de alimentos. A importância da questão ambiental na Europa e Alemanha é apresentada. Métodos e instrumentos da gestão ambiental são discutidos. A importância para a agricultura de normas européias (Eco-Audit) e internacionais (ISO 14001) que tratam do assunto são discutidas. Sistemas de gestão ambiental e gestão da qualidade serão comparados, destacando-se a possibilidade de integração destes dois sistemas. A possibilidade de implementação de um sistema computadorizado é apresentada no final do artigo.

Abstracts

The objective of this article is to discuss the possibilities of environmental-management-systems in the agri-food sector and the support by an application of an information-system. Thereby the focus is laid on chain-encompassing considerations. The importance of environmental contraints in Europe and specially on the german market is stressed out. Methods and instruments of environmental-management like the ordinance No. 1836/93 from the European Union and the international standard ISO 14.001 are introduced and discussed. Synergisms and differences between environmental-management-systems and qualitity-management-systems are explained. The possibilities of the computer aided support are discussed in the end.

Palavras-chaves

Gestão ambiental, sistemas informatizados, ISO 14001

1. INTRODUÇÃO

A conservação do meio ambiente é um dos objetivos explícitos da política agrícola da Alemanha e da União Européia (Bundesministerium für Ernährung, Landwirtschaft und Forsten, 1997). Um conjunto de leis rigorosas regulamenta a produção agrícola, muitas vezes limitando até mesmo a expansão da capacidade produtiva da empresa rural. Na opnião pública, o processo de produção agrícola é apontada como uma das causas da degradação do meio ambiente.

A existência destas leis reflete a preocupação da sociedade civil com a questão ambiental. O consumidor final exerce pressão sobre esta questão e ao mesmo tempo também é influenciado pelo mercado, política e opnião pública. A figura abaixo esquematiza a interação entre instituições da sociedade e a cadeia de produção agroindustrial.




Figura 1: Influências sobre a cadeia de produção de alimentos.

O enfoque na melhoria de processos é na gestão ambiental, como também na gestão da qualidade, um princípio básico. Diferentemente da gestão da qualidade, aonde em última instância a qualidade do produto é fundamental, na gestão ambiental, emissões, subprodutos, consumo de fatores de produção também são igualmente importantes (Bundesumweltministerium und Umweltbundesamt, 1995).

Nas seções a seguir, os benefícios da gestão ambiental serão apresentados. A certificação de sistemas de gestão ambiental e de gestão da qualidade é apresentada comparativamente. O método "balanço ambiental" é mostrado na seção seguinte. A possibilidade de implantação de um sistema computadorizado de gestão ambiental é apresentado na seção 5. Finalmente, as conclusões do trabalho são apresentadas.

2. GESTÃO AMBIENTAL NA AGRICULTURA

Gestão ambiental é definida por Butterbrodt & Tammler (1996) como "o planejamento, implementação, controle e aprimoramento de todas atividades conduzidas em uma empresa tendo como objetivo a conservação do meio ambiente, incluindo também a gerência da empresa e dos recursos humanos"

Os benefícios da implantação de um sistema de gestão ambiental em outros setores também são válidos para o setor agrícola e agroindustrial. Os benefícios são listados a seguir (Keßeler, 1997):

  • Redução de Custos

economia de materia prima
aumento da produtividade
redução do consumo de energia
redução de dejetos

  • Melhoria da Competitividade da Empresa

melhoria da imagem da empresas frente a opnião pública
conquista de novos clientes e mercados
melhoria do posicionamento no mercado

  • Melhoria da Organização interna na Empresa

motivação dos empregados
melhoria da qualificação dos empregados

  • Redução de Riscos

diminuição de risco de processos legais contra a empresa
diminição do custo de seguros
aumento do limite de crédito
diminuição das exigência para aprovação de projetos
análise de erros na empresa

 

Com a difusão da gestão ambiental, ocorrerá o mesmo fenômeno ocorrido com a gestão da qualidade, ou seja, empresas que dispõem de sistemas de gestão ambiental certificados, passarão a exigir que seus fornecedores também implantem sistemas eficientes (Mangelsdorf, 1995). Aumento das exigências dos consumidores em relação a origem e a diferentes aspectos relacionados a qualidade de produtos verificado em outros setores econômicos também é valido para a produção agrícola. As exigências do consumidor, demonstrada em última instância na decisão de compra, afetam todos os elementos da cadeia produtiva, chegando num efeito "dominó" até o produtor rural. (Abresch, 1996).

A importância e difusão da gestão ambiental na agricultura é ainda muito pequena. Entretanto, espera-se que como em outros setores, cada vez mais empresas implantem tais sistemas e os certifique conforme normas internacionais. Na Dinamarca, está em andamento um projeto de implantação de um sistema de gestão ambiental integrado a um sistema de gestão da qualidade (Gottlieb-Pettersen, 1997).

3. CERTIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL

O decreto n° 1836/93 ratificado pelo Conselho da União Europeia (UE) que trata da gestão ambiental entrou em vigor em 11 de abril de 1995 (Amtsblatt der Europäischen Gemeinschaften, 1996). Este decreto define as normas para implantação voluntária de sistemas de gestão ambiental e auditoria ambiental em fábricas na UE, tal decreto é conhecido como EMAS (environmental management and audit schema) ou em alemão Öko-Audit. Além da norma europeia, é cada vez maior a importância da norma da International Organization for Standardization, a ISO 14001.

Na Alemanha, várias fábricas do setor agroindustrial já foram certificadas conforme normas EMAS. Até junho de 1997 haviam 700 empresas certificadas, sendo que 25% oriundas do setor alimentício (Dilly, 1997).

As exigências básicas destas normas internacionais são as seguintes:

  • Definição de uma política ambiental
  • Definição de metas
  • Formulação de um plano para conservação ambiental
  • Integração da conservação ambiental na estrutura e rotina da empresa
  • Condução de auditorias internas e controle relacionados a gestão ambiental
  • Definição do aprimoramento constante do meio ambiente como uma obrigação da empresa.

Apesar da existência em comum destas exigências básicas, as duas normas diferenciam-se em vários aspectos, principalmente jurídicos, no grau de detalhamento das exigências e na obrigação, somente mas normas EMAS, da divulgação pública da política ambiental da empresas (Eggert & Petrick, 1996; Bohnen, 1996).

Pelas normas ISO 14001, as exigências a serem cumpridas pela empresa devem ser formuladas com precisão e clareza. Em relação a implantação e estrutura do sistema, há várias similaridades com as normas da série ISO 9000 para certificação de sistemas de gestão da qualidade. Na tabela 1, as normas ISO 14001 e ISO 9001, estruturadas em capítulos, são apresentadas comparativamente.

4. MÉTODO "BALANÇO DE EFEITOS AMBIENTAIS"

Há mais de duas décadas discute-se sobre métodos apropriados a avaliação dos efeitos ecológicos da produção econômica. Inicialmente, buscava-se avaliar os efeitos ambientais através de um único parâmetro. O enfoque mutidimensional do "balanço de efeitos ambientais" tem-se imposto como mais apropriado (Society of Environmental Toxicology and Chemistry ,1993). Várias organizações e instituições tem proposto metodologias para "balanço ambiental", havendo inclusive um esboço (ISO 14040) de "balanço ambiental" para produtos proposta pela ISO. A importância desta avaliação é cada vez maior, e a norma ISO DIS 14040 define "balanço ambiental do efeito de produtos" como: "compilação e avaliação do fluxo de entrada/saída e efeitos potenciais no meio ambiente de sistemas de um sistema de produção durante o ciclo de vida de um produto" (Deutsches Institut für Normung, 1996).

ISO 14001     ISO 9001
(5 capítulos principais) capítulos (20 capítulos)
Política Ambiental   1 Responsabilidades da Gerência
Planejamento (ambiental) 2    
meio ambiente 2.1    
aspectos jurídicos 2.2    
definição de objetivos e metas 2.3    
Cronograma 2.4    
    2 planejamento da qualidade
Implementação 3    
organização e reponsabilidades 3.1 1 organização (responsabilidades)
treinamento 3.2 18 treinamento
comunicação (opnião pública) 3.3    
documentação (ambiental) 3.4 2 documentação (qualidade)
controle de documentos 3.5 5 controle de documentos e informações
controle de processos 3.6 2 SGQ (descrição de processos)
    4 projeto de novos produtos
    6 controle de materia prima/fornecedores
    7 controle de produtos pertencentes a clientes
    9 controle do processo de produção
    15 armazenamento, embalagem
    19 assistência técnica pós venda
    8 identificação de produtos
    3 controle de contratos com clientes
Planejamento ações emergênciais 3.7    
Controle e Ações Corretivas 4    
controle e medições 4.1 10 testes
    12 identificação dos resultados de testes
    20 métodos estatísticos
    11 controle de aparelhos de medição
    13 manejo de produtos não conformes
detecção de não conformidades, ações preventivas e corretivas 4.2 14 ações corretivas
identificação e protocolos 4.3 16 controle de identificações de produtos e processos
auditorias ambientais 4.4 17 auditorias internas da qualidade
Avaliação pela alta gerência 5 1 Avaliação da Gerência

Tabela 1: Normas ISO 14001 e ISO 9001

5. SISTEMA INFORMATIZADO DE GESTÃO AMBIENTAL

Um sistema informatizado de gestão ambiental é a implementação prática de um sistema de informações ambientais em empresas, este último conhecido na Alemanha pela sigla BUIS (betriblichen Umweltinformationssystem). Conforme Hilty (1995) um BUIS é "um sistema organizacional-técnico de compilação, análise e disponibilização de informações relevantes ambientalmente numa empresa". Tal sistema permite a compilação de efeitos atuais e potenciais no meio ambiente provocado pela atividade produtiva de uma empresa, além de auxiliar a implementação de ações preventivas e corretivas. Além de apoiar a documentação, um BUIS é também um instrumento de planejamento, implementação e controle da gestão ambiental (Halley & Pfriem, 1992)

O sistema de informações da própria empresas é a principal fonte de dados para o BUS. O balanço ambiental é a segunda fonte de informações mais importante. A certificação conforme as normas EMAS ou ISO 14001 gera informações importantes que alimentarão o sistema. Por outro lado, a existência de um BUIS numa empresa simplifica o processo de certificação. Informações externas são obtidas no ambiente externo da empresa e na cadeia produtiva.

Um sistema computadorizado teria como função principal disponibilizar informações relevantes para a gestão ambiental, contribuindo para a diminuição dos efeitos no meio ambiente da atividade agrícola conforme o esquema mostrado na figura 2. Em relação a estrutura técnica, a separação entre o sistema propriamente dito e o banco de dados, fica evidenteciada pela necessidade de integrar informações externas, sobre a qual o usuário não tem controle e são sujeitas a constantes modificações. A possibilidade de utilizar a estrutura computacional de um sistema desenvolvido para a gestão ambiental (Silva Jr., 1996) está sendo avaliada.

A implantação de um sistema de gestão ambiental em empresas que já dispõem de sistema de gestão da qualidade, ou vice-versa, apresenta efeitos de sinergia, principalmente no aspecto organizacional. Documentos e dados necessários a um sistema podem ser utilizados pelo outro sistema.

Figura 2. Estrutura Esquemática de um Sistema de Informações Ambientais (BUIS).

6. CONCLUSÕES

Na fazenda experimental do Instituto de Adminstração Rural da Universidade Bonn, Alemanha, está sendo implantado um sistema de gestão da qualidade. Este sistema será submetido futuramente a auditoria com vista a certificação pela norma norma internacinal ISO 14001. O sistema pretende também atender as exigências da norma EMAS, entretanto, como esta ainda não foi homologada para o setor agrícola, não há possibilidade de certifição.

Nesta empresa rural já existe em funcionamente um sistema de gestão da qualidade, certificado pela norma ISO 9002 desde de outubro de 1996 (Schiefer et. al., 1996). Um sistema informatizado de gestão da qualidade para a suinocultura nesta empresa esta em fase final de testes (Silva Jr, 1996). A estrutura computacional deste sistema servirá de base para o desenvolvimento de um sistema informatizado de gestão ambiental.

O trabalho está sendo desenvolvido tendo como referência a realidade da agricultura e agroindústria européia, especialmante a agricultura alemã. Entretanto, como o Brasil também enfrenta sérios problemas em relação aos efeitos da produção agrícola no meio ambiente, os princípios básicos e instrumentos de um sistema de gestão ambiental aqui discutidos também se aplicam a realidade brasileira.

 

7. REFERÊNCIAS

  • Abresch. J.-P. (1996). Agrar-Öko-Audit - Chancen und Probleme aus der Sicht der Agrar- und Umweltwissenschaften. Oral presentation at the conference on "Agrar-Öko-Audit" 21th of february 1996. Hamm.
  • Amtsblatt der Gemeinschaften (ABL) from 10th of july 1993: Verordnung (EWG) Nr. 1836/93 DES RATES vom 29. Juni 1993 über die freiwillige Beteiligung gewerblicher Unternehmen an einem Gemeinschaftssystem für das Umweltmanagement und die Umweltbetriebsprüfung, Amtsblatt Nr. L 168/9.
  • Bohnen, H. (1996). Umweltmanagementsysteme im Vergleich. In Wirtschaftsrecht Heft 33.
  • Bundesumweltministerium und Umweltbundesamt (1995). Handbuch Umweltcontrolling. München.
  • Bundesministerium für Ernährung, Landwirtschaft und Forsten (1997). Agrarbericht der Bundesregierung 1997. BUB, Bonn.
  • Deutsches Institut für Normung (1996). DIN ISO/DIS EN 14040 - Umweltmanagement - Produkt-Ökobilanzen - Prinzipien und allgemeine Anforderungen. Berlin.
  • Dilly P. (1997). Oral Presentaion at "DLG-Umweltgespräche '97 - Ökobilanzen - von der Erzeugung zum Produkt". 18th of June 1997. Bonn.
  • Dyllick T.; Belz, F. (1994). Zum Verständnis des ökologischen Branchenstrukturwandels. In: Dyllick T, et al. (1994). Ökologischer Wandel in Schweizer Branchen. Verlag Paul Haupt. Bern, Stuttgart, Wien.
  • Eggert, R.; Petrick, K. (1996). Der Unterschied ist gering - Ein Vergleich zwischen den Schriften ISO/DIS 14001, DGQ 100-21, EWG-VO 1836/93 für Umweltmanagementsysteme. In: Qualität und Zuverlässigkeit. Jg. 41 (1996) Heft 2. pp. 144/145. München. Carl Hanser Verlag.
  • Gottlieb-Pettersen, C. (1997). Quality and Environmental Management System on 60 Danish Farms. In: Schiefer, G.; Helbig, R. (eds., 1997). Quality Management and Process Improvement for Competitive Advantage in Agriculture and Food. Proceedings of the 49th Seminar of the European Association of Agricultural Economists (EAAE). University of Bonn (ILB). pp. 43 - 47. Bonn.
  • Halley, H.; Pfreiem, R. (1992). Öko-Controlling: Umweltschutz in mittelständischen Unternehmen. Campus Verlag, Frankfurt.
  • Hilty, L. M. (1995). Betriebliche und überbetriebliche Umweltinformationssysteme als informationstechnische Infrastruktur für das Stoffstrommanagement. In: SCHMIDT M. und Schorb, A. (Hrsg., 1995): Stoffstromanalysen in Ökobilanzen und Öko-Audits. pp. 193 - 205. Berlin, Heidelberg, New York. Springer Verlag.
  • Hüwels, H. (1994). Umweltmanagement und Umweltbetriebsprüfung nach EG-Verordnung. In: Zertifizierung. November 1994. pp. 130 - 132. München. Carl Hanser Verlag.
  • Keßeler, T. (1997). Identifizierung und Bewertung von umweltrelevanten Parametern in der Land- und Ernährungswirtschaft. Unveröffentlichtes Manuskript. Bonn.
  • Larisch, G. (1996). Umwelt-Audits - Unternehmen auf dem Prüfstand. Oral presentation at the conference on "Agrar-Öko-Audit" 21th of february 1996. Hamm.
  • Mangelsdorf, D. (1995). Umwelt - ein wichtig Aspekt der Unternehmensführung. In: Qualität und Zuverlässigkeit. Jg. 40 (1995) Heft 6. pp. 648/649. München. Carl Hanser Verlag.
  • Silva Jr., A. G. da.; Helbig, R. Schiefer, G. (1996). A prototype computer aided quality assurance system for pig producers. in Lokhorst, C. (ed.) proceedings of the 6th International Congress for Computer Technology in Agriculture, Wageningen.
  • Society of Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) (1993). Guidelines for life-cycle assessment: a "code of practise". Sesimbra.

 

8. BIOGRAFIAS

Aziz G. da Silva Jr.

Professor Assistente, Depto. Economia Rural, Universidade Federal de Viçosa - MG.
Doutorando, Instituto de Adminstração Rural da Universidade de Bonn, Alemanha.
MSc. Economia Rural, Universidade Federal de Viçosa - MG.

Thomas Keßeler

Doutorando, Instituto de Adminstração Rural da Universidade de Bonn, Alemanha.
Engenheiro Agrônomo, Universidade de Bonn, Alemanha.