AGROSOFT 95
Feira e Congresso de Informática Aplicada à Agropecuária e Agroindústria


Implementação de Sistemas de Informação para o Setor Agrícola: Considerações e Sugestões

Contato
Carlos Arthur Barbosa da Silva
UFV
Campus Universitário
36.571-000 - Viçosa - MG
e-mail: usercabs@vm.lncc.br

Autoria
Sônia Maria Leite Ribeiro do Vale - UFV
Carlos Arthur Barbosa da Silva - UFV
Carlos Antônio Moreira Leite - UFV

Este trabalho objetiva ressaltar algumas considerações importantes sobre desenvolvimento e implementação de sistemas de informações para a agricultura.

Como se sabe, existe uma tendência para a disseminação de sistemas de informações agrícolas, principalmente nos países desenvolvidos. Na literatura, os autores levantam pontos essenciais para que a configuração e implantação desses sistemas atendam às reais necessidades dos tomadores de decisão. Como no Brasil ainda é incipiente o que se tem desenvolvido para a agricultura em termos de sistemas de informação, torna-se imprescindível apresentar uma revisão do que tem sido feito em alguns países, para que se possa compreender melhor o processo de implementação de sistemas que auxiliam os tomadores de decisão.

Para isto, uma questão inicial que precisa ser considerada diz respeito ao conhecimento do tipo de informação desejado pelo tomador de decisão e como ela é usada no processo decisório. Assim que esses fatos são conhecidos, é possível construir e configurar um componente de processamento, para oferecer a informação desejada, dadas as restrições de disponibilidade de dados. O método alternativo de adaptar o modelo construído a outros propósitos, para oferecer informação aos tomadores de decisão, é freqüentemente problemático, uma vez que a informação oferecida pode não estar no formato desejado, o processamento de dado pode ser muito complexo e os dados demandados podem ser excessivos.

Outra questão importante na determinação do tipo de informação desejada pelo tomador de decisão é a definição clara das metas, pois estas são, freqüentemente, muito mais amplas do que o alcance de níveis mais elevados de lucros. Modelos que enfocam um conjunto limitado de metas podem encontrar aceitação limitada pelos tomadores de decisão que desejam conhecer o " trade off" entre as várias metas. Os modelos, portanto, precisam exprimir o resultado de uma decisão particular e como ela relaciona com o conjunto amplo de metas.

Land , citado por HARSH et alii (1987), considera três condições essenciais para que um sistema que auxilie os tomadores de decisão seja implementado: 1) O sistema precisa ser aprovado e considerado (avaliado, estimado) por seus usuários; 2) O sistema precisa ser capaz de se adaptar às mudanças de condições e de necessidades; e 3) Os vários componentes do sistema de informação precisam operar em harmonia, para proporcionar suporte mútuo aos usuários do sistema.

Essas condições indicam que o sistema precisa dar respostas úteis aos tomadores de decisão. Determinação útil não é fácil, porque no fim das contas a definição é decidida pelo tomador de decisão.

Vários autores procuram estabelecer condições para a implementação com sucesso de sistemas de informação, com vistas em dar suporte à tomada de decisão dos administradores rurais. CONNOR e VINCENT (1970) e ALTER (1976) consideram que o objeto principal do estudo não é o sistema de informação, mas o administrador e a informação que ele necessita para desempenhar suas funções. Conclui-se que o elemento crucial é proporcionar informação para a tomada de decisão, visto que sistemas de informação terão aplicação limitada, a menos que sejam capazes de indicar áreas-problema, sugerir dimensões dos problemas e apontar ações prescritivas.

GERRITY JR. (1971), propõe o desenvolvimento de sistemas de decisão homem-máquina - uma mistura efetiva da inteligência humana, tecnologia de informação e "software" (técnicas de processamento da informação e modelos da ciência administrativa), os quais interajam, completamente, na solução de problemas complexos. Na visão desse autor, os problemas fundamentais na construção de tal sistema de sucesso são metodológicos e não tecnológicos. Ao utilizar uma amostragem da literatura de configuração de sistema de informação, e ao observar uma variedade de sistemas computacionais, esse autor revela vários viéses da metodologia de configuração: 1) Configuração centrada na máquina; 2) Configuração centrada nos dados; 3) Configuração centrada no processo; 4) Configuração de sistema de informação; e 5) Configuração centrada na decisão

GERRITY (1971) mostra, ainda, que a maioria dos sistemas de informação se enquadra nas três primeiras categorias, alguns na quarta e, praticamente, nenhum na última, e propõe uma estrutura para modelos de decisão com dois componentes principais: (1) O modelo do processo de tomada de decisão, que inclui as fases de agregação ou atividades de um processo de decisão; e (2) Os elementos do sistema de decisão, que representam as classes principais dos componentes do sistema de decisão primitivo, necessários para suportar o comportamento da decisão do modelo do processo.

KING e CLELAND (1975), estudando o processo de configuração de um sistema de informação, afirmam que há evidência considerável da falta de envolvimento dos administradores nesse processo, o que tem contribuído para as falhas de sua "performance". Sugerem que a metodologia de configuração e a análise da informação sigam os seguintes passos: 1)Identificação do conjunto de usuários e organizações; 2)Identificação das áreas de decisão; 3) Definição das áreas de decisão; 4) Desenvolvimento de um modelo descritivo do sistema; 5) Desenvolvimento de um modelo normativo do sistema; 6) Desenvolvimento de um modelo de consenso do sistema; 7) Identificação e especificação do modelo de decisão; e 8) Especificação da necessidade de informação.

BONNEN (1975) chama atenção para os passos distintos que precisam ser executados, antes de se produzir um dado que possa representar qualquer realidade (conceptualização, operacionalização de conceitos e medição) e afirma que as falhas e as limitações de qualquer um desses componentes do sistema de dados limitam e restringem a qualidade e as características dos dados produzidos. Uma inadequação em qualquer estágio pode ser compensada somente parcialmente por melhoramento ou pela manipulação nos outros estágios. Portanto, a grande melhoria na metodologia estatística e nas técnicas de processamento de dados não pode compensar falhas em nível conceitual; independentemente da qualidade de manipulação dos números, pode-se estar, ainda , medindo a coisa errada.

Como dado não é informação, um sistema de informação inclui não somente a produção de dado, mas também a análise e a interpretação desse dado em alguma decisão política intencional (importante) ou no contexto de solução de problema. Prortanto, conclui o autor, um sistema de informação deve incluir não somente um sitema de dados, mas habilidades analíticas necessárias à interpretação dos dados.

Quando se analisam os negócios agrícolas, deve-se ter em mente que eles têm características únicas, que devem ser consideradas pelos configuradores de qualquer sistema planejado para fins agrícolas. KOK e GAUTHIER (1986 e 1989) realçam que a interface precisa ser muito "inteligente" e totalmente amigável. O sistema deve ser modular, dada a natureza diversa e dinâmica do ambiente agrícola, e deve ser forte (isto é, resistente aos erros do usuário, acidentes, etc), na visão das condições operacionais externas tanto para "hardware" como para "software".

Os autores consideram que para serem efetivos na sua tomada de decisão, os administradores rurais precisam de dados históricos mais seguros, de acesso a dados externos e de modelos confiáveis. Para isso, devem configurar uma estrutura integrada, que possa facilitar a interação das várias partes que compõem o ambiente rural, que não pode ser visto de modo isolado, pois ele é parte de uma série que contém componentes ecológicos, sociais e econômicos. Por essa razão é que o tipo de sinergismo encontrado nos organismos e nos sistemas biológicos deve constituir uma fonte de inspiração para a configuração dos sistemas agrícolas futuros. O software para controle agrícola integrado deve desempenhar várias funções, que podem ser divididas em seis categorias genéricas ou fundamentais: aquisição de dados e conhecimento; interpretação, validação e competição do conhecimento; síntese, apresentação e transmissão da informação; suporte à decisão; tomada de decisão; e implementação da decisão.

Os fluxos de informação entre essas categorias, o usuário e a base de dados e de conhecimento são mostrados na Figura 1.

FONTE: GAUTHIER e KOK (1989).

FIGURA 1 - Esquema para Controle da Atividade Agrícola Integrada e dos Fluxos de Informação.

Outro autor que apresenta um modelo para refletir o "ambiente de informação rural" é RAO (1990), que, para isso, usou conceitos e princípios básicos de sociologia rural, comunicação, estatística e administração. O modelo foi segmentado em várias fases (iniciação; assimilação e reação; avaliação; re-uso e informação interna), e o processo envolvido no fluxo de informação é mostrado por meio de uma rota conectando uma ampla rede de diversos determinantes em cada fase(Figura 2).

As duas posições polares que conectam o esquema são as " agências externas", de um lado, e a "área rural", de outro. O ponto inicial no modelo é a disseminação, bem como o uso da informação pelas instituições públicas e privadas em direção à área rural.

Também ZANG (1990), procurou sugerir um modelo de sistema para o meio rural ,rou delimitar, genericamente, a utilização potencial de microprocessadores no meio rural e identificar os pontos críticos. Tomando como ponto de partida os sistemas de suporte à decisão, desenvolveu um modelo de fluxo de informações em uma empresa rural brasileira, o qual se compõe de seis centros de processamento de dados: setores de compras, vendas, contabilidade, finanças, pessoal e produção.

FIGURA 2- Um Modelo para o Sistema de Informação Agrícola ( Adaptado de RAO, 1990).

Do exposto pode-se concluir que é imprescindível que sejam desenvolvidoas pesquisas para que se conheçam o tipo de informação desejada pelo tomador de decisão e a forma como é utilizada no processo de tomada de decisão.

O sistema de informação agrícola deve, ainda, atender às metas diferenciadas de seus usuários e dar respostas úteis. O usuário precisa estar consciente do valor do sistema e deve ser visto como o componente principal do sistema e ser considerado em todo o processo. Ainda dentro desse contexto, devem-se implementar os sistemas de informações internos da empresa, antes dos externos. Os produtores e o próprio sistema precisam de dados históricos mais seguros, de acesso a informações oportunas e adequadas às suas condições e de modelos confiáveis de sistemas de informação.

Bibliografia

ALTER, S.L. How effective managers use information systems. Havard Business Review, 54(6): 97-104, 1976.
BONNEN, J.T. Improving information on agriculture and rural life. American Journal of Agricultural Economics, 57 (5):753-763, 1975.
CONNOR, L.J. & VINCENT, W.H. A framework for developing computerized farm management information. Canadian Journal of Agricultural Economics, 18 (1):70-75, 1970.
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RAO, J.K. Design of a rural information environment model. International Journal of Information Management, 10 (2):127-141, 1990.
ZANG, N. Utilização do computador na administração rural: um modelo para um sistema de informações. Revista de Economia e Sociologia Rural, 28(1):71-88, 1990.