AGROSOFT
95 Feira e Congresso de Informática Aplicada à Agropecuária e Agroindústria |
Considerações Estratégicas sobre o Processo de Informatização das Empresas/Propriedades Rurais*Contato
André Luiz Zambalde
UFLA
Caixa Postal 37
37.200-000 - Lavras - MG
e-mail:esal@eu.ansp.br Autoria
José Carlos Santos Jesus - UFLA
André Luiz Zambalde - UFLA
Lidia Micaela Segre - COPPE - UFRJ
*. Trabalho componente de monografia realizada na COPPE/UFRJ.
RESUMO
O objetivo deste traballho é fornecer informações estratégicas e práticas sobre o processo de informatização das empresas/propriedades rurais. Uma situação que combina mudanças na organização/gestão da produção e do trabalho e informática. Inovações que estão sendo introduzidas na agropecuária objetivando, como na indústria e no setor de serviços, responder às alterações econômico-sociais ocorridas nas últimas décadas (crise de mercado, desestabilização do sistema financeiro internacional e aumento da necessidade empresarial de controlar a produção). Apresenta-se também, um resumo estatístico relativo a áreas e campos de aplicação dos principais softwares agropecuários disponíveis no país.TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Informática, recursos humanos, agricultura.
ABSTRACT
The objective of this paper is to provide some strategic considerations about the computers in the farm. A situation which combines changes amongg administration, production management, labor and new technologies. The new changes which are being introduced in agriculture aim to answer the economical and social changes wich have happened in the last decades (such as, market crisis, unstability of internacional financial system and increasing of the companies needs of controlling production. A statistical abstract of the areas which use agricultural softwares is showed.KEYWORDS : Computer science, human resources, agriculture.
1. Introdução
O processo de informatização das empresas/propriedades rurais deve obedecer a uma série de etapas, denominadas etapas de desenvolvimento (Meirelles, 1994; Jesus, 1993).
A primeira etapa (estruturação), objetiva promover organização e racionalização dos processos administrativos. Uma organização prévia, independente de computador, das rotinas de trabalho/controle da propriedade.
A segunda etapa (automação), diz respeito ao processo de adoção da tecnologia computacional, segundo três estratégias básicas: contratação do desenvolvimento de programas específicos, utilização de software de caráter genérico (pacotes) e aquisição de programas específicos já desenvolvidos para o setor rural (aplicativos).
Na terceira etapa (integração) os sistemas que antes funcionavam isoladamente passam a ser integrados. Trata-se do estágio final a ser atingido e representa um processo de maximização do uso dos recursos em busca de minimização dos custos operacionais.
Tem-se, então, uma situação que conjuga mudanças na organização/gestão da produção e do trabalho e informática. Inovações que estão sendo introduzidas na agropecuária objetivando, como na indústria e no setor de serviços, responder às alterações econômico-sociais ocorridas nas últimas décadas (crise de mercado, desestabilização do sistema financeiro internacional e aumento da necessidade empresarial de controlar a produção).
Assim, supõe-se uma profunda modificação estrutural e técnica na empresa (propriedade rural) à medida que o uso da informática for se tornando corriqueiro. Entretanto, faltam investigações sobre o assunto. Particularmente, observa-se ausência de estudos relativos a aspectos individuais da informatização agrícola, tais como: impactos da informatização no conjunto dos trabalhadores, tipos de programas disponíveis no mercado, os mais utilizados, questões relativas ao desenvolvimento de programas específicos para o setor, tipo de empresa que opta pela informatização, equipamentos mais utilizados, capacidade/qualificação de fornecedores, atendimento, segurança e qualidade.
Tais aspectos são os componentes (em estudo, avaliação e análise) deste trabalho.
2. Metodologia
Pode-se dizer que este é um estudo exploratório. Uma investigação de campo, realizada no período de 04/95 a 07/95 junto a 106 produtores/administradores rurais da região sul de Minas Gerais, 03 instituições de ensino, pesquisa e extensão e 22 softhouses/profissionais de várias regiões do país. Para coleta de dados foram elaborados questionários, que serviram como roteiro e base para operacionalização de entrevistas, ou seja, foram diretamente aplicados (contato direto ou telefone) ou enviados aos componentes da pesquisa (correios, fax ou e_mail).
O fato é que antes deste trabalho não haviam informações consistentes e atuais sobre o processo de informatização de uma empresa/propriedade rural e sobre o conjunto de softwares disponíveis para o setor em questão. Nosso maior objetivo foi investigar e procurar compreender melhor esta realidade.
3. Resultados e Discussão
3.1. Estruturação Administrativa
Do total de 106 entrevistas, realizadas junto a empresas/propriedades rurais da região sul de Minas Gerais, identificou-se que 33 (ou 31.1%) utilizam o computador como instrumento de apoio a suas atividades administrativas e gerenciais. Outras 73 (68.9%) empresas ainda não fazem uso desta ferramenta, principalmente devido a falta de conhecimento na área e ao alto custo dos sistemas.
O perfil das empresas que optaram pela informatização é o seguinte: atuam na área de pecuária de leite, são administradas sob base familiar, possuem entre 20 e 30 funcionários fixos, área de 300 hectares e produzem em média 40000 litros de leite/mês. Os principais motivos que levaram tais empresas à informatização foram: a facilidade de acesso e domínio da informação (15, 45.4%), grande volume de informações a serem processadas (12, 36.4%) e redução de custos (6, 18.2%). Os principais problemas encontrados referem-se a coleta de dados (14 empresas ou 42.4%), treinamento básico (10, 30.3%) e alto custo dos sistemas (9, 27.3%). Todos os equipamentos utilizados são compatíveis IBM-PC e encontram-se instalados nas fazendas a mais de um ano.
Os principais usuários dos sistemas são os próprios administradores (empresa capitalista) ou proprietários (empresa familiar) das empresas, poucos são os auxiliares contratados especificamente para a função tecnológica, ou seja, o processo de informatização não exigiu contratação de funcionários. Quanto à dispensa destes, praticamente todas as empresas (30, 90.9%) foram categóricas em afirmar que a informatização também não permitiu a dispensa de empregados. Portanto, não há alteração no número de postos de trabalho. O que ocorre é uma certa demanda por mudanças de conteúdo, um processo de mobilidade, treinamento e reciclagem. Aumenta-se o controle, exige-se do funcionário mais responsabilidade, participação e qualificação, principalmente no que diz respeito à coleta e manipulação de dados.
3.2. Automação
Segundo Garcia & Barros (1985) a automação diz respeito ao processo de efetiva adoção da tecnologia informática, segundo três estratégicas básicas:
Desenvolvimento de Software: Opção de longo prazo, 8 empresas (24.2%) contrataram o desenvolvimento de programas específicos. Normalmente, a metodologia de desenvolvimento adotada é a prototipação (Pressmam, 1992), privilegiando participação do usuário (de forma consultiva) em todo o processo. A principal ferramenta de programação utilizada é o gerenciador de banco de dados (12 softhouses, em 25 entrevistadas), principalmente Clipper. A necessidade de envolvimento do usuário aumenta conforme o tamanho e complexidade do sistema.
Pacotes Genéricos: Opção de curto prazo e menor custo, 5 empresas (15.2%) utilizam programas genéricos. Os pacotes mais utilizados são planilha eletrônica, Banco de dados e Processador de textos. Implica em um conhecimento básico em informática (acumulado) por parte do usuário. Constitui base de conhecimento útil (suporte) para o futuro, quando da opção, se necessária, pelo desenvolvimento de software específico para a propriedade, ou mesmo no que diz respeito à aquisição de um aplicativo "pronto".
Programas específicos: Opção intermediária, 20 empresas/propriedades rurais (60.6%) trabalham com aplicativos. Investigou-se 169 programas, exclusivamente direcionados ao setor agropecuário, comercializados e/ou distribuídos por softhouses e instituições de ensino/pesquisa. Atendendo a diversas áreas e campos de aplicação, conforme tabela I
Tabela I : Software agropecuário: áreas/campos de aplicação
Prod. de Plantas Prod. Animal Adm. e Economia Eng. Agrícola Outros (16, 09.5%)* (65, 38.5%) (58, 34.3%) (20, 11.8%) (10, 05.9%) Agronomia...08**
Engenhos.....03
Sementes.....01
Cana............01
Café.............01
Citros...........01
Hortaliças.....01Bovino Leite..13
Aves .............11
Bovino Corte.08
Bovinos.........08
Rebanho........07
Suínos...........07
Nutrição........07
Eqüinos.........02
Caprinos........01
Veterinária.....01Gerenciamento......19
Cont. de Custos....13
Planej e Controle..12
Folha de Pagto.....04
Planej. da Prod.....03
Contabilidade.......03
Cooperativas........02
Agroindústria.......01
Vendas .................01
Inf. Geográficas....09
Irrig. e Drenagem.07
Topografia...........03
Ambiência............01Hipermídia....03
Silvicultura...02
Ações...........01
Flora.............01
Software.......01
Hipermídia....01* número total por área de aplicação. ** número total por campo de aplicação.
3.3. Integração
A integração representa a última etapa do processo de informatização. Os sistemas, já em pleno funcionamento, passam a ser integrados/interligados. Cria-se então, através da ferramenta padrão "banco de dados", uma grande rede de informações interna e externa. Esta pesquisa não identificou nenhuma empresa nesta fase do processo de informatização. Ainda falta muito para chegar-se a este nível no setor agropecuário. Particularmente no que diz respeito a aspectos: sociais e econômicos: educação, qualificação e renda (produtor); capacitação: qualidade e manutenibilidade dos programas (softhouses) e infra-estrutura: telecomunicações (governo).
3.4. Seleção de Software e Hardware
Programas são adquiridos para atender às necessidades de seus usuários. após serem colocados em operação, espera-se que tenham uma vida longa e produtiva. Para que isto seja realidade, saber observar determinadas características, no instante da compra, torna-se essencial.
Basicamente, as principais características a serem observadas são: Objetividade: além de satisfazer necessidades e requisitos, o programa deve ser fácil de usar e de aprender; Especificidade: refere-se à necessidade de se ter, para análise detalhada, uma listagem de características específicas do programa; Adaptabilidade: adaptação, adequação do programa/fornecedor ao modo de pensar e trabalhar da propriedade; Portabilidade: característica de um programa poder ser operado de maneira fácil e adequada em configurações de equipamentos diferentes da original (Rocha, 1987); Expansibilidade: característica de um programa ter suas funções desenvolvidas de maneira a permitir a adição ou subtração de módulos conforme especificações; Manutenibilidade: característica de um programa permitir implementar/documentar alterações; e Treinamento: característica da empresa/ fornecedor capacitar usuários na utilização de seus programas.
Quando ao hardware, os elementos básicos a serem considerados para uma escolha adequada, em função de objetivos atuais e potenciais do uso do computador na empresa/propriedade são: microprocessador, memória, periféricos, suprimentos e manutenção. Cabe lembrar que todos os fornecedores/desenvolvedores do software agropecuário utilizam Pc compatíveis.
4. Conclusões
A informática anda de mãos dadas com a padronização de processos e procedimentos. Assim, a informatização não deve ser considerada como solução para as atividades que não funcionam bem manualmente. Não adianta informatizar uma confusão, seria apenas uma "confusão informatizada". Também, não se trata simplesmente de acrescentar controle ao trabalho em benefício do capital. Para evitar possíveis fracassos, assegurar benefícios duradouros e melhorias contínuas, aqueles que compõem a força de trabalho da empresa/propriedade devem estar plenamente comprometidos com os resultados almejados, familiarizados com o processo de mudança em curso, confortáveis e motivados para a assimilação e o uso desta nova tecnologia.
5. Bibliografia
JESUS, J. C. S. (1994) - A informática na administração rural. Lavras/MG: Esal/Ufla. Apostila, Departamento de Administração e Economia.
MEIRELLES, F. S. (1994) - Informática novas aplicações com microcomputadores. São Paulo/SP : Makron Books.
GARCIA, R. M.; BARROS, M. A. S. (1985) - A informática aplicada à pecuária leiteira. Tecnologia da produção leiteira. Piracicaba/SP: Fealq.
ROCHA, A. R. C. (1987) - Análise e projeto estruturado de sistemas. Rio de Janeiro: Campus.